Um olho à belenenses fica sempre bem! Dá aquele ar invejável de irreverente aventureiro que desafia punhos e cotovelos temíveis com uma bravura de bradar aos céus! Isto é o que deve vincar na cabeça das gentes de hoje em dia, que por compaixão ou benevolência desancam à batatada por um alfinete de dama, não vá o próximo ter problemas de auto-estima e integração social, e tal como as suas mentes geniais e engenhosas formulam, um olho à belenenses fica realmente bem!
Eu agradeço a preocupação, mas o negro-púrpura não condiz muito bem com a cor dos meus olhos…
Às vezes gostava de saber se eles têm algum critério de selecção para os felizes contemplados, ou se é simplesmente aleatório, abordando aqueles que estavam no sítio errado há hora errada! Penso que seja mais por aí, porque o que eles querem mesmo é ser clementes e zelar pelo estatuto de todas as massas! E o que melhor que a força bruta para demonstrar essa virilidade e supremacias inalcançáveis!
Se calhar até lhes devíamos prestar culto e homenagem, dar-lhes oferendas e comprar-lhes um lugar no céu, entoar rap’s celestiais e profetizar a sua doutrina violenta e agressiva! Oh joy! Tempo de alegria! Punhos cerrados em riste e levemos este mundo adiante!
Cada vez mais tenho a indigesta noção que a vida urbana tende de novo para o Paleolítico à medida que o tempo passa. Cada vez mais há quem opte o caminho da força bruta e do medo para se destacar de alguma forma: “Não estudei, não tenho ética, não contribuo para o desenvolvimento do país, e moro numa casa clandestina, mas sei usar bem o punho, e como tal, mereço o respeito e admiração dos demais!”. Mas nem é preciso pintar um cenário tão marginal e degradante. Quantas e quantas famílias aparentemente felizes, limpas e bem cuidadas não são assombradas por um pai ou outro qualquer membro, que volta e meia quando o Benfica perde, descarrega as suas frustrações desportivas na mulher e filhos. Poderei estar a caricaturar demais, mas de facto, há quem se exalte por coisas tão ou mais insignificantes.
As normas cívicas e politicamente correctas vão lutando em vão por uma sociedade anarquicamente correcta, mas não passa de uma conduta de valores para inglês ver, porque por trás dessa película policromática e harmoniosa, permanece um submundo cinzento em que a lei do mais forte vinga, quase como uma cadeia alimentar, em que o Gangster, O Rei da Selva, acaba muitas vezes por sair ileso.
Qualquer dia temos fogos cerrados em manhãs de domingo, crianças que correm para um coito incerto, numa fuga incessante do próprio medo, golpes de estado, tiros no escuro e no claro, para onde quer que se queira, rasteiras políticas, quedas sociais, campos de batalha urbanos, armamento em saldos e excedentes de decadência, morgues com listas de espera, um lucro partilhado entre o paraíso e o inferno no balanço final do purgatório, e no meio de todas estas agressões quotidianas, fica por saber quem será que nunca vai dar um murro na mesa e dizer que chega.
28/11/2006
04/11/2006
Está cá um friooo...Bem!
E porque a minha actividade literária anda de baixa, e consequentemente esta Hortelã.Pimenta meio murcha, venho aqui atirar com um (des)bloqueador de conversa dos mais Clássicos que toda a história da comunicação humana alguma vez conheceu. O mito dos diálogos empenados de trazer por casa. O desentupidor de canalizações verbais. O policia sinaleiro dos congestionamentos nas vias de comunicação. A posta lubrificante deste Blog inerte e moribundo:
Entããão.... Hoje tá cá um briol, hã? Do camander!
... O Tempo! O comentário metereológico surge sempre no seguimento de uns breves segundos de silêncio constrangedor. É inevitável.
Ponho-me aqui a pensar sobre o assunto (sim porque eu penso muito no estado do tempo e em toda a sua essência), e dou voltas e voltas sem conseguir achar uma razão plausível que justifique esta tendência quase genética de comentar o tempo com alguém.
Deve ser porque a outra pessoa tem sensibilidade ocular e apatia térmica, e de facto não consegue chegar às mesmas conclusões geniais que nós. Ou entao deve ser porque dois metros ao lado os ventos vindos de Noroeste já não sopram da mesma maneira!
Não sei, mas sem dúvida alguma que deve ser para acrescentar algo de novo a conversa. Algo que a outra pessoa já não saiba...!
Já te disse que hoje esteve um tempo manhoso?
Entããão.... Hoje tá cá um briol, hã? Do camander!
... O Tempo! O comentário metereológico surge sempre no seguimento de uns breves segundos de silêncio constrangedor. É inevitável.
Ponho-me aqui a pensar sobre o assunto (sim porque eu penso muito no estado do tempo e em toda a sua essência), e dou voltas e voltas sem conseguir achar uma razão plausível que justifique esta tendência quase genética de comentar o tempo com alguém.
Deve ser porque a outra pessoa tem sensibilidade ocular e apatia térmica, e de facto não consegue chegar às mesmas conclusões geniais que nós. Ou entao deve ser porque dois metros ao lado os ventos vindos de Noroeste já não sopram da mesma maneira!
Não sei, mas sem dúvida alguma que deve ser para acrescentar algo de novo a conversa. Algo que a outra pessoa já não saiba...!
Já te disse que hoje esteve um tempo manhoso?
29/10/2006
The Otherside
Mais um inicio de noite saboroso no Adamastor, passado comigo mesma e com os sons improvisados na curva de um sorriso, a respirar um bocado de Lisboa e do rio para limpar tudo cá dentro.
O sol hoje fez-nos uma visita, num jeito meio trocista, depois dos dias cinzentos que dançaram esta semana toda. Olho o por do sol e penso como é que ele será do outro lado. Pois é. 18 anos a ver o sol todos os dias e nunca lhe vi as costas. Será igual? Será a mesma luz? Será mais feio? Porque é que raramente nos interrogamos sobre aquilo que não conseguimos ver? O campo da imaginação é muito menos nítido… mas aposto que é muito mais bonito do que o físico e visível.
Eu por exemplo, daqui vejo o Cristo Rei de braços abertos para mim, denunciando uma esperança com os seus olhos postos em nós. Já quem vive do outro lado do rio, só lhe vê o rabo!
Às vezes gostava de ver o que não consigo.
Mas vou deixar isso ao critério da minha imaginação desfocada!
O sol hoje fez-nos uma visita, num jeito meio trocista, depois dos dias cinzentos que dançaram esta semana toda. Olho o por do sol e penso como é que ele será do outro lado. Pois é. 18 anos a ver o sol todos os dias e nunca lhe vi as costas. Será igual? Será a mesma luz? Será mais feio? Porque é que raramente nos interrogamos sobre aquilo que não conseguimos ver? O campo da imaginação é muito menos nítido… mas aposto que é muito mais bonito do que o físico e visível.
Eu por exemplo, daqui vejo o Cristo Rei de braços abertos para mim, denunciando uma esperança com os seus olhos postos em nós. Já quem vive do outro lado do rio, só lhe vê o rabo!
Às vezes gostava de ver o que não consigo.
Mas vou deixar isso ao critério da minha imaginação desfocada!
26/10/2006
Próxima paragem: Desconhecida
E porque há quem não tenha carta de condução, ou até quem prefira o suave aroma a axila de refogado e a perícia dos carteiristas ao conforto do seu carro, foram feitos, em honra dessa estirpe massiva da sociedade, os autocarros. E é precisamente sobre esse magnífico meio de transporte e todo o habitat que se lhe associa que venho falar. Metro?! Não, isso é coisa de gente fina! Táxi?! Isso então é só mesmo para quem pode! Eu é mais autocarros.
Venho aqui desmistificar, para todos os leitores abastados, a ideia lendária de que andar de autocarro é um hábito sujo, degradante e sem qualquer proveito à excepção do contacto corporal que eu tanto gosto, sim?!
Tudo isso são mentiras! Tudo isso são calúnias! Tudo isso são blasfémias! Resolvi desprender-me de todos os meus preconceitos e estereótipos e descobri que… andar de autocarro pode ser um acto extremamente cultural! Diria erudito mesmo! Senão vejamos:
Num dia fotocopiado de muitos outros, sem nada de novo até à altura a não ser a mensagem de informação ao cliente da Yorn, que eu tanto gosto de receber, apanho o meu 27 e é aí que tudo muda! É a Boa Nova Rodoviária! De rua em praceta, começam a entrar os deputados da assembleia ambulante da 3ª idade. Têm rugas, cabelos brancos ou no hair at all, uns com olhos queridos por trás das lentes garrafais, outros com expressões ameaçadoras e zangadas com a vida ou com a morte que ainda está para chegar (ainda não consegui perceber muito bem), capazes de comer o mundo com as suas próteses dentárias reluzentes.
O clima começa a entrar em ebulição, pego nos meus Malteesers, acomodo-me na minha cadeira da primeira fila, autografada por Anas que amam Joões, and Show Time!
O motorista vai colhendo os passageiros, e os velhinhos, à medida que entram vão-se cumprimentando uns aos outros – os que se conhecem, os que não se conhecem, os que fingem que se conhecem e fazem autênticos malabarismos e ginásticas lexicais e sintácticas para evitar ter de se dirigir à pessoa pelo nome – enfim! Todos são amigos, e todos sabem de todos! Parecem ceitas organizadas, circulação interna de informação, base de dados completa! Às vezes chego mesmo a pensar que até devem existir Clubes de Associados da Carris, com encontros semanais e torneios de Canastra! Penso que alguns devem ser também amigos de Grupos Turísticos da viagem diária com partida em Santa Apolónia Às 17.00h. São reformados, têm tempo livre e solidão, um passe Lisboa Viva, e aproveitam (e muito bem) para conhecer a cidade. Existe melhor forma de conhecer Lisboa que no conforto de um Volvo com motorista, com ambientador humano de catinga do bosque e ar condicionado das respirações engripadas dos passageiros? Aposto que não!
Essas jornadas turísticas explicariam o facto de todos os velhinhos saberem os nomes de todas as ruas num raio de 15 Km e respectivos códigos postais, que nem um GPS orgânico topo de gama! Já eu, nem sei onde fica a Almirante Reis.
Acho especial piada às conversas corriqueiras das senhoras. Cumprimentam-se formalmente (é raro o contacto físico), e em vez do comum “Está boazinha?”, NÃO! Sai antes um benevolente, piedoso e mártir “Está melhorzinha?”… Mas é genérico! Podem até conhecer-se apenas da carreira anterior, podem nem saber nada de nada da pessoa, mas partem sempre do pressuposto que por detrás daquela simpatia toda estará algures escondida uma qualquer patologia maldosa, esfregando as mãos de crueldade, por mais que a pessoa venda saúde!
Mas também, frequentemente respondem à pergunta confirmando todas as dúvidas, disparando um rol imenso de doenças e dores, quais sofredoras pagando pelos seus pecados de uma vida! E pronto, desatam ali numa desgarrada de maleitas, competindo pelo lugar de moribundo como se de um leilão se tratasse. É o “quem dá mais” da Epidemiologia!
Seguidamente, perguntam pela família, o que inclui gatos, periquitos e todo o tipo de animais de companhia. Fazem outra competição, mas agora de fotografias dos filhos, netos, bisnetos e toda a linhagem descendente, que recheiam as suas carteiras de pele rechonchudas. Basta analisar-lhes o olhar babado e reconfortado de quem tem a certeza que trouxe algo de bom ao mundo, e isso basta-lhes a eles, e é razão mais que suficiente para viverem os últimos anos da sua vida, por mais difíceis que sejam. Contam histórias, o casamento dos netos, as traquinices de outros, e vivem essas memórias como se lhes trouxessem um bocadinho de juventude emprestada. Confiam as histórias e as vidas a pessoas que conhecem ali do banco da frente do autocarro, como se fossem amigos de longa data, quiçá da sua infância muito longínqua.
Trocam umas quantas ideias e uns quantos comentários sobre os programas matinais da televisão, sobre os dinheiros que gastam a tentar ligar para o Goucha no Você na TV. E acusa-me a minha mãe das meras horas ao telefone com a Sofia! Se tivesse horário de tarde é que ela ia ver! Corria tudo o que era programa! Desde o Sic 10 Horas à Oprah (sim, chamadas internacionais)! Ninguém me parava, ui!
Mas os velhinhos queridos também têm o seu quê de má-língua, que eu bem as oiço criticar as personagens das novelas, e a conspirar maldades na eventualidade de se cruzarem com elas na rua. São ferozes, as senhoras!
Outra coisa que eu admiro é a perícia dos avôzinhos com o equilíbrio nas curvas atribuladas da viagem. A minha imagem de velhice inclui um esqueleto frágil prestes a desmoronar-se que nem um castelo de cartas. Mas eles não! Eles desafiam toda a morfologia humana, e gozam com a força centrifuga e com a inércia, e mantêm-se hirtos às maiores oscilações. Parece que eles e o autocarro são um todo coeso. E eu, com uma bifurcação voo para o colo de alguém desafiando apenas a lei da gravidade.
E tudo vai nesta amena cavaqueira, apreciando mais uma viagem metropolitana, com os seus colegas que tratam pelos nomes com um Sr. ou uma Dona antes, mas que de facto devem ter todos mais ou menos a mesma idade! Eu não me imagino a tratar os meus amigos por Dona Legos, ou Sr. Mikie, muito menos a trata-los por você e a dizer: “Dona Legos, importa-se de me passar a tira de bordado inglês, por favor?”
Subitamente, começa a cheirar a medo no ar! O ar do autocarro até pode cheirar a muita coisa, mas o cheiro a medo quando cheira, cheira muito mais do que os outros!
A silhueta esférica da Dona Ermelinda já se vislumbra ao longe na paragem, por detrás de uma névoa sinistra, fitando o autocarro como o seu olhar de lince. Velhinhos tremem mais que o normal, uma coisa assim entre a gelatina e um ataque de hipotermia, oiço outros engolirem em seco, e o Sr. Mateus inclusive engasga-se com o canino. Há burburinho na camioneta e um suspense sofucante. Toda a gente a conhece, é um autêntico ícone social! Quem dera à Cinha Jardim ter metade do reconhecimento que a Dona Ermelinda tem, das suas viagens da Carris!
Ela entra, já resmungando entre dentes com o tempo, e reclamando com o Serviço de Informação Meteorológica repetindo: “Eu sabia que não devia ligar àquelas coisas que dizem na televisão! As minhas dores das articulações é que sabem quando o tempo vai mudar, eu sabia!”. Estes pormenores levam-me a pensar que se calhar as capacidades paranormais tendem a surgir com a idade, tipo bênção, conforme a pessoa que se foi ao longo da vida, ou assim… Vou portar-me bem, para chegar a velha e ler a mente, e ganhar todos os torneios de Canastra!
A Dona Ermelinda, depois de maldizer do tempo a torto e a direito, como se não estivesse satisfeita, começa logo a disputar por um lugar sentada, com uma qualquer velhinha que seja menos velha que ela! Às vezes mete-se com umas que são osso duro de roer (a juntar às próteses dentárias…) e quase desatam ali numa luta greco-romana, arrancando perucas e capachinhos, de bengala em riste, quais cabecilhas de guerra! Há dias em que eu, quando vejo mais que X rugas por metro quadrado, já nem me sento, não vá alguma senhora rogar-me pragas até ao fim dos meus dias, e eu ainda tenho uma esperança de vida confortável, e assim também evito ouvir mais um sermão sobre juventude perdida, que eles tanto gostam de declamar!
Depois de enxovalhar a Dona Alice, continua num monólogo revoltado, criticando os mais variados temas lá do alto dos seus 72 anos e do seu metro e cinquenta. Opina sobre tudo um pouco: política, economia, juventude… Enfim! Uma lista colossal de chatices! Sim, porque a conclusão final, é que é tudo uma chatice, e no seu tempo, era tudo muito mais bonito, as pessoas eram boas e nascia dinheiro das árvores! E, de repente, começa a interagir com os outros velhinhos, cada um opinando à sua maneira, cada um por seu caminho, e cria-se ali um debate aceso de significativo valor cultural! Referendos, discussões, perdigotos! O sossego daquela viagem morre afogado!
Têm as crenças vincadas nas rugas, já não há forma de as demover! Gera-se ali um Revolução Civil, o autocarro leva nele a Revolta do Cravos, na voz dos passageiros. A Dona Ermelinda é uma das Capitãs de Abril, e o motorista, coitado, é o refém.
Mas no fim de todo aquele fogo cerrado de opiniões distintas, acabam sempre todos por chegar a consenso, a um ideal comum, de que antigamente é que era, e agora tudo está mau, e a culpa é do sistema! Todos ficam amigos no fim, e a Dona Ermelinda e a Dona Alice já partilham fotografias da carteira. Aposto que grande parte das ideias que constituem o senso comum, nascem ali, nos bancos de trás do 27, com parteiras à moda antiga!
E assim vai decorrendo a viagem, que ao longo do tempo vai perdendo intervenientes, descarregados e salpicados, uns umas paragens antes, outros mais à frente…enfim, no devido lugar, quando é chegada a sua hora.
Mas confesso que a viagem no fim, quando já só restam mais uns sem destino como eu, perde toda a piada e fica muito mais incompleta.
Eu admiro-os. De que forma forem, com os mais variados feitos, admiro-os! Quer seja pelas suas personalidades vincadas com opiniões de ferro, quer pela enorme confiança que depositam em todos, partilhando as suas histórias de vidas reais com desconhecidos de uma forma genuína, porque a palavra não faz mal e a conversa cada vez faz mais falta. Quer por defenderem as suas ideias sem medo - porque quem enfrenta a morte mais de perto, não teme mais nada - , ou quer pelo simples facto de que a vida já passou quase toda por eles (ou eles já passaram quase todos pela vida) e guardam neles mais de 70 anos de imagens e respirações, que eu espero um dia vir a guardar. Ou seja, admiro-os porque existem, porque fazem falta, e porque me mostram o meu futuro e o de todos sem pedir nada em troca, apenas um sorriso, uma mão de ajuda para levantar, ou um lugar sentado no autocarro. São uma peça do puzzle comunitário, que é imprescindível como todas as outras para o acabar. Afinal, sem um fim, para que serviria começar?
Bem, é aqui que eu fico, Sr. Motorista! Boa tarde, e até amanhã!
Venho aqui desmistificar, para todos os leitores abastados, a ideia lendária de que andar de autocarro é um hábito sujo, degradante e sem qualquer proveito à excepção do contacto corporal que eu tanto gosto, sim?!
Tudo isso são mentiras! Tudo isso são calúnias! Tudo isso são blasfémias! Resolvi desprender-me de todos os meus preconceitos e estereótipos e descobri que… andar de autocarro pode ser um acto extremamente cultural! Diria erudito mesmo! Senão vejamos:
Num dia fotocopiado de muitos outros, sem nada de novo até à altura a não ser a mensagem de informação ao cliente da Yorn, que eu tanto gosto de receber, apanho o meu 27 e é aí que tudo muda! É a Boa Nova Rodoviária! De rua em praceta, começam a entrar os deputados da assembleia ambulante da 3ª idade. Têm rugas, cabelos brancos ou no hair at all, uns com olhos queridos por trás das lentes garrafais, outros com expressões ameaçadoras e zangadas com a vida ou com a morte que ainda está para chegar (ainda não consegui perceber muito bem), capazes de comer o mundo com as suas próteses dentárias reluzentes.
O clima começa a entrar em ebulição, pego nos meus Malteesers, acomodo-me na minha cadeira da primeira fila, autografada por Anas que amam Joões, and Show Time!
O motorista vai colhendo os passageiros, e os velhinhos, à medida que entram vão-se cumprimentando uns aos outros – os que se conhecem, os que não se conhecem, os que fingem que se conhecem e fazem autênticos malabarismos e ginásticas lexicais e sintácticas para evitar ter de se dirigir à pessoa pelo nome – enfim! Todos são amigos, e todos sabem de todos! Parecem ceitas organizadas, circulação interna de informação, base de dados completa! Às vezes chego mesmo a pensar que até devem existir Clubes de Associados da Carris, com encontros semanais e torneios de Canastra! Penso que alguns devem ser também amigos de Grupos Turísticos da viagem diária com partida em Santa Apolónia Às 17.00h. São reformados, têm tempo livre e solidão, um passe Lisboa Viva, e aproveitam (e muito bem) para conhecer a cidade. Existe melhor forma de conhecer Lisboa que no conforto de um Volvo com motorista, com ambientador humano de catinga do bosque e ar condicionado das respirações engripadas dos passageiros? Aposto que não!
Essas jornadas turísticas explicariam o facto de todos os velhinhos saberem os nomes de todas as ruas num raio de 15 Km e respectivos códigos postais, que nem um GPS orgânico topo de gama! Já eu, nem sei onde fica a Almirante Reis.
Acho especial piada às conversas corriqueiras das senhoras. Cumprimentam-se formalmente (é raro o contacto físico), e em vez do comum “Está boazinha?”, NÃO! Sai antes um benevolente, piedoso e mártir “Está melhorzinha?”… Mas é genérico! Podem até conhecer-se apenas da carreira anterior, podem nem saber nada de nada da pessoa, mas partem sempre do pressuposto que por detrás daquela simpatia toda estará algures escondida uma qualquer patologia maldosa, esfregando as mãos de crueldade, por mais que a pessoa venda saúde!
Mas também, frequentemente respondem à pergunta confirmando todas as dúvidas, disparando um rol imenso de doenças e dores, quais sofredoras pagando pelos seus pecados de uma vida! E pronto, desatam ali numa desgarrada de maleitas, competindo pelo lugar de moribundo como se de um leilão se tratasse. É o “quem dá mais” da Epidemiologia!
Seguidamente, perguntam pela família, o que inclui gatos, periquitos e todo o tipo de animais de companhia. Fazem outra competição, mas agora de fotografias dos filhos, netos, bisnetos e toda a linhagem descendente, que recheiam as suas carteiras de pele rechonchudas. Basta analisar-lhes o olhar babado e reconfortado de quem tem a certeza que trouxe algo de bom ao mundo, e isso basta-lhes a eles, e é razão mais que suficiente para viverem os últimos anos da sua vida, por mais difíceis que sejam. Contam histórias, o casamento dos netos, as traquinices de outros, e vivem essas memórias como se lhes trouxessem um bocadinho de juventude emprestada. Confiam as histórias e as vidas a pessoas que conhecem ali do banco da frente do autocarro, como se fossem amigos de longa data, quiçá da sua infância muito longínqua.
Trocam umas quantas ideias e uns quantos comentários sobre os programas matinais da televisão, sobre os dinheiros que gastam a tentar ligar para o Goucha no Você na TV. E acusa-me a minha mãe das meras horas ao telefone com a Sofia! Se tivesse horário de tarde é que ela ia ver! Corria tudo o que era programa! Desde o Sic 10 Horas à Oprah (sim, chamadas internacionais)! Ninguém me parava, ui!
Mas os velhinhos queridos também têm o seu quê de má-língua, que eu bem as oiço criticar as personagens das novelas, e a conspirar maldades na eventualidade de se cruzarem com elas na rua. São ferozes, as senhoras!
Outra coisa que eu admiro é a perícia dos avôzinhos com o equilíbrio nas curvas atribuladas da viagem. A minha imagem de velhice inclui um esqueleto frágil prestes a desmoronar-se que nem um castelo de cartas. Mas eles não! Eles desafiam toda a morfologia humana, e gozam com a força centrifuga e com a inércia, e mantêm-se hirtos às maiores oscilações. Parece que eles e o autocarro são um todo coeso. E eu, com uma bifurcação voo para o colo de alguém desafiando apenas a lei da gravidade.
E tudo vai nesta amena cavaqueira, apreciando mais uma viagem metropolitana, com os seus colegas que tratam pelos nomes com um Sr. ou uma Dona antes, mas que de facto devem ter todos mais ou menos a mesma idade! Eu não me imagino a tratar os meus amigos por Dona Legos, ou Sr. Mikie, muito menos a trata-los por você e a dizer: “Dona Legos, importa-se de me passar a tira de bordado inglês, por favor?”
Subitamente, começa a cheirar a medo no ar! O ar do autocarro até pode cheirar a muita coisa, mas o cheiro a medo quando cheira, cheira muito mais do que os outros!
A silhueta esférica da Dona Ermelinda já se vislumbra ao longe na paragem, por detrás de uma névoa sinistra, fitando o autocarro como o seu olhar de lince. Velhinhos tremem mais que o normal, uma coisa assim entre a gelatina e um ataque de hipotermia, oiço outros engolirem em seco, e o Sr. Mateus inclusive engasga-se com o canino. Há burburinho na camioneta e um suspense sofucante. Toda a gente a conhece, é um autêntico ícone social! Quem dera à Cinha Jardim ter metade do reconhecimento que a Dona Ermelinda tem, das suas viagens da Carris!
Ela entra, já resmungando entre dentes com o tempo, e reclamando com o Serviço de Informação Meteorológica repetindo: “Eu sabia que não devia ligar àquelas coisas que dizem na televisão! As minhas dores das articulações é que sabem quando o tempo vai mudar, eu sabia!”. Estes pormenores levam-me a pensar que se calhar as capacidades paranormais tendem a surgir com a idade, tipo bênção, conforme a pessoa que se foi ao longo da vida, ou assim… Vou portar-me bem, para chegar a velha e ler a mente, e ganhar todos os torneios de Canastra!
A Dona Ermelinda, depois de maldizer do tempo a torto e a direito, como se não estivesse satisfeita, começa logo a disputar por um lugar sentada, com uma qualquer velhinha que seja menos velha que ela! Às vezes mete-se com umas que são osso duro de roer (a juntar às próteses dentárias…) e quase desatam ali numa luta greco-romana, arrancando perucas e capachinhos, de bengala em riste, quais cabecilhas de guerra! Há dias em que eu, quando vejo mais que X rugas por metro quadrado, já nem me sento, não vá alguma senhora rogar-me pragas até ao fim dos meus dias, e eu ainda tenho uma esperança de vida confortável, e assim também evito ouvir mais um sermão sobre juventude perdida, que eles tanto gostam de declamar!
Depois de enxovalhar a Dona Alice, continua num monólogo revoltado, criticando os mais variados temas lá do alto dos seus 72 anos e do seu metro e cinquenta. Opina sobre tudo um pouco: política, economia, juventude… Enfim! Uma lista colossal de chatices! Sim, porque a conclusão final, é que é tudo uma chatice, e no seu tempo, era tudo muito mais bonito, as pessoas eram boas e nascia dinheiro das árvores! E, de repente, começa a interagir com os outros velhinhos, cada um opinando à sua maneira, cada um por seu caminho, e cria-se ali um debate aceso de significativo valor cultural! Referendos, discussões, perdigotos! O sossego daquela viagem morre afogado!
Têm as crenças vincadas nas rugas, já não há forma de as demover! Gera-se ali um Revolução Civil, o autocarro leva nele a Revolta do Cravos, na voz dos passageiros. A Dona Ermelinda é uma das Capitãs de Abril, e o motorista, coitado, é o refém.
Mas no fim de todo aquele fogo cerrado de opiniões distintas, acabam sempre todos por chegar a consenso, a um ideal comum, de que antigamente é que era, e agora tudo está mau, e a culpa é do sistema! Todos ficam amigos no fim, e a Dona Ermelinda e a Dona Alice já partilham fotografias da carteira. Aposto que grande parte das ideias que constituem o senso comum, nascem ali, nos bancos de trás do 27, com parteiras à moda antiga!
E assim vai decorrendo a viagem, que ao longo do tempo vai perdendo intervenientes, descarregados e salpicados, uns umas paragens antes, outros mais à frente…enfim, no devido lugar, quando é chegada a sua hora.
Mas confesso que a viagem no fim, quando já só restam mais uns sem destino como eu, perde toda a piada e fica muito mais incompleta.
Eu admiro-os. De que forma forem, com os mais variados feitos, admiro-os! Quer seja pelas suas personalidades vincadas com opiniões de ferro, quer pela enorme confiança que depositam em todos, partilhando as suas histórias de vidas reais com desconhecidos de uma forma genuína, porque a palavra não faz mal e a conversa cada vez faz mais falta. Quer por defenderem as suas ideias sem medo - porque quem enfrenta a morte mais de perto, não teme mais nada - , ou quer pelo simples facto de que a vida já passou quase toda por eles (ou eles já passaram quase todos pela vida) e guardam neles mais de 70 anos de imagens e respirações, que eu espero um dia vir a guardar. Ou seja, admiro-os porque existem, porque fazem falta, e porque me mostram o meu futuro e o de todos sem pedir nada em troca, apenas um sorriso, uma mão de ajuda para levantar, ou um lugar sentado no autocarro. São uma peça do puzzle comunitário, que é imprescindível como todas as outras para o acabar. Afinal, sem um fim, para que serviria começar?
Bem, é aqui que eu fico, Sr. Motorista! Boa tarde, e até amanhã!
22/10/2006
Outubro.Outono.Cinzento.
É 22 de Outubro. É Outono. É cinzento. São 5 p.m. dum domingo qualquer como todos os outros, iguais e repetidos no metrónomo dos meses e dos anos, marcando o fim de uma semana ou o início de outra, como quiseres! Varia conforme o teu estado de espírito e a fome que tens ou não de tempo. O Sócrates por exemplo deve vê-los como o fim de uma semana, pode ser que lhe dê a ilusão optimista que já cumpriu mais uma semana de governo exemplar cheia de exemplos em branco, e isso lhe alimente o seu espírito ambicioso por um Portugal melhor e uma conta bancária Excelente. Já eu por exemplo, dou comigo às vezes a consumir domingos com um apetite voraz, quando alguma data aliciante espera por mim sentada no quadradinho do seu calendário. E volta e meia, à conta desta minha gula cronológica, engasgo-me nos domingos e nas quartas-feiras, tropeço nas terças e engulo as quintas sem mastigar, trocando a digestão toda e a agenda também. Basicamente a minha falta de organização explica-se pelo sabor do tempo e a minha enorme gulodice.
Este domingo de hoje acordou zangado e de mal com o mundo. Está com má cara! E com mau tempo também! Não há luz! Parece que se fechou num quarto escuro a chorar sobre as suas mágoas! Os meus sentimentos… Nada que uma caixa de chocolates e uma sessão intensiva de Dr. Phill não resolvam!
Sento-me na cadeira em frente à secretária, em posições que desafiam a morfologia humana e surpreendem-me com a minha flexibilidade desconhecida, e vou olhando pela janela a ver se chove. Literalmente. E chove! O domingo está com um ar ameaçador hoje! Ventos ciclónicos, árvores empurradas umas contra as outras, gotas de água suicidas, folhas pára-quedistas, carros que abanam como se as joaninhas da Peugeot dançassem samba lá dentro, dilúvios de proporções celestiais, trovoadas ensurdecedoras que até o nosso coração e pulmões ouvem, como se a terra estivesse com fome ou como se os deuses se irritassem lá em cima e se insultassem divinamente, relâmpagos hipnotizantes como se o céu nos tivesse a tirar fotografias, e um filtro cinzento que torna tudo mais escuro.
Fico parada e estática a olhar o temporal, como se estivesse a ver o Orlando Bloom à minha frente. Nunca soube explicar muito bem a sensação que tenho quando olho a chuva lá fora. É um misto de segurança e desconforto, de bonito e feio, de bom e de mau. É como um vício. Prende-me de uma forma instintiva. Não conheço nenhum nome para essa sensação. Se me perguntarem o que sinto ao ver uma tempestade, respondo que sinto chuva. É capaz de servir a definição. Gosto do cheiro a terra molhada e do cheiro a frio, gosto de a ver cair lá fora, mas apenas porque estou cá dentro e isso me dá uma sensação estúpida de segurança, como se a chuva magoasse. Isso faz-me sentir uma medricas patética.
E fico assim, a ver o domingo passar, os chapéus de chuva a virarem-se do avesso, pondo em causa a sua utilidade, as manadas oportunistas de “qué-frô” sedentos de negócio fácil e conveniente com molhos não de rosas mas de guarda-chuvas a dois euros, as calças molhadas até aos joelhos, os cabelos das senhoras feitos ninho de rato. Fico assim sentada a ver Outubro, a ver Outono, a ver cinzento.
Este domingo de hoje acordou zangado e de mal com o mundo. Está com má cara! E com mau tempo também! Não há luz! Parece que se fechou num quarto escuro a chorar sobre as suas mágoas! Os meus sentimentos… Nada que uma caixa de chocolates e uma sessão intensiva de Dr. Phill não resolvam!
Sento-me na cadeira em frente à secretária, em posições que desafiam a morfologia humana e surpreendem-me com a minha flexibilidade desconhecida, e vou olhando pela janela a ver se chove. Literalmente. E chove! O domingo está com um ar ameaçador hoje! Ventos ciclónicos, árvores empurradas umas contra as outras, gotas de água suicidas, folhas pára-quedistas, carros que abanam como se as joaninhas da Peugeot dançassem samba lá dentro, dilúvios de proporções celestiais, trovoadas ensurdecedoras que até o nosso coração e pulmões ouvem, como se a terra estivesse com fome ou como se os deuses se irritassem lá em cima e se insultassem divinamente, relâmpagos hipnotizantes como se o céu nos tivesse a tirar fotografias, e um filtro cinzento que torna tudo mais escuro.
Fico parada e estática a olhar o temporal, como se estivesse a ver o Orlando Bloom à minha frente. Nunca soube explicar muito bem a sensação que tenho quando olho a chuva lá fora. É um misto de segurança e desconforto, de bonito e feio, de bom e de mau. É como um vício. Prende-me de uma forma instintiva. Não conheço nenhum nome para essa sensação. Se me perguntarem o que sinto ao ver uma tempestade, respondo que sinto chuva. É capaz de servir a definição. Gosto do cheiro a terra molhada e do cheiro a frio, gosto de a ver cair lá fora, mas apenas porque estou cá dentro e isso me dá uma sensação estúpida de segurança, como se a chuva magoasse. Isso faz-me sentir uma medricas patética.
E fico assim, a ver o domingo passar, os chapéus de chuva a virarem-se do avesso, pondo em causa a sua utilidade, as manadas oportunistas de “qué-frô” sedentos de negócio fácil e conveniente com molhos não de rosas mas de guarda-chuvas a dois euros, as calças molhadas até aos joelhos, os cabelos das senhoras feitos ninho de rato. Fico assim sentada a ver Outubro, a ver Outono, a ver cinzento.
07/10/2006
O que queres ser quando fores grande?
O que é que gostavas de ser quando fores grande?
Aviador e tu?
Não sei.
Engraçado como os putos, pirralhos de palmo e meio, às vezes conseguem ser mais decididos e mais seguros de si mesmos do que nós, projectos de adultos, formados em matemáticas, letras e tretas.
Engraçado como os putos, sem saberem nada, sabem sem querer o que são e o que gostam, o que querem e o que não querem, ter 2 namoradas com o consentimento de ambas, isto é de mestre! Já nós, pseudo-sábios com uma experiência de vida imensa, que nem um Dalai Lama ocidental, andamos à espera da ajuda do público para escolher o que está atrás da porta 1, 2 ou 3, porque não conseguimos decidir por nós próprios. E depois, volta e meia a plateia manda uma ao poste, e lá nos sai um vale no valor de 200€ em gomas e sortidos na Doçaria Santos & Santos. Aposto que os putos, acertavam à primeira e iam todos felizes para casa com os seus sonhos muito mais modestos do que os nossos.
Engraçado também, como para os putos, tudo se resume a uma simplicidade única e naturalmente óbvia, e não precisam de grandes filosofias para viverem o dia a dia com um sorriso na cara. Quais teorias da relatividade, quais conotações e sentidos dúbios. Para eles um sim é um sim, um não é um não. Para eles um não, não é um está-na-eminência-entre-um-sim-e-um-não-mas-em-caso-de-dúvida-negue-sempre.
Basicamente, os putos têm muito mais graça que nós. Graça e atitude, e arrisco-me a afirmar que essas duas razões estão praticamente em proporcionalidade inversa com a idade… quanto mais velhos, menos engraçados e mais parvos. Lindo… acho que só voltamos a recuperar quando ficamos idosos, sábios e experientes e inválidos, e quando a vida já passou por nós e nos deitou a língua de fora! Lanço-vos um desafio: tentem responder na mesma moeda nessa altura sem escorrer um fio de baba e sem ter problemas técnicos relativos à prótese dentária! Está a valer uma embalagem de Viagra!
À medida que crescemos vamos ficando mais pequenos… Paradoxal e controverso, dito assim de uma só vez até corro o risco de chocar os idealistas mais conservadores e os pais de família. Peço desculpa a pouca sensibilidade e este meu jeito salpicadamente rude, mas o meu lado de criança de temps en temps manifesta-se e digo coisas assim sem lógica alguma e completamente descabidas aos olhares maduros e adultos de quem tem medo da opinião alheia, como a minha irmã do papão. Eu digo que ficamos mais pequenos, porque a nossa essência cai na tentação de se aprisionar, não vá ela pisar a linha do socialmente aceitável, e que ninguém ouse importunar sua malvadeza!
Mas não me julguem uma marginal e deslocada, idealista e revoltada que critica o modelo social actual. É a realidade actual, a ervilha em que vivemos. Regemo-nos pelas referências que a sociedade nos dá, crescemos nos meios em que sociedade nos acolhe, aprendemos a ser aquilo que a sociedade é. É um instinto animal de assimilação. Eu por exemplo nunca vi elefantes pendurados em árvores nem koalas tocarem o sino. Uns mais que outros absorvemos os padrões e adaptamo-nos. Não que isso seja totalmente mau, mas cabe-nos a nós interpretar e filtrar segundo a nossa maneira de ser aquilo que recebemos dos outros, e decidir o que ser ou não, mas sem que isso vá contra os nossos princípios básicos. Temos de ser um bocadinho aquilo que somos, a massa do nosso bolo mármore, e não o que gostaríamos que os outros vissem em nós. Eu por exemplo adorava ser vegetariana. O problema é que eu odeio vegetais…
Aviador e tu?
Não sei.
Engraçado como os putos, pirralhos de palmo e meio, às vezes conseguem ser mais decididos e mais seguros de si mesmos do que nós, projectos de adultos, formados em matemáticas, letras e tretas.
Engraçado como os putos, sem saberem nada, sabem sem querer o que são e o que gostam, o que querem e o que não querem, ter 2 namoradas com o consentimento de ambas, isto é de mestre! Já nós, pseudo-sábios com uma experiência de vida imensa, que nem um Dalai Lama ocidental, andamos à espera da ajuda do público para escolher o que está atrás da porta 1, 2 ou 3, porque não conseguimos decidir por nós próprios. E depois, volta e meia a plateia manda uma ao poste, e lá nos sai um vale no valor de 200€ em gomas e sortidos na Doçaria Santos & Santos. Aposto que os putos, acertavam à primeira e iam todos felizes para casa com os seus sonhos muito mais modestos do que os nossos.
Engraçado também, como para os putos, tudo se resume a uma simplicidade única e naturalmente óbvia, e não precisam de grandes filosofias para viverem o dia a dia com um sorriso na cara. Quais teorias da relatividade, quais conotações e sentidos dúbios. Para eles um sim é um sim, um não é um não. Para eles um não, não é um está-na-eminência-entre-um-sim-e-um-não-mas-em-caso-de-dúvida-negue-sempre.
Basicamente, os putos têm muito mais graça que nós. Graça e atitude, e arrisco-me a afirmar que essas duas razões estão praticamente em proporcionalidade inversa com a idade… quanto mais velhos, menos engraçados e mais parvos. Lindo… acho que só voltamos a recuperar quando ficamos idosos, sábios e experientes e inválidos, e quando a vida já passou por nós e nos deitou a língua de fora! Lanço-vos um desafio: tentem responder na mesma moeda nessa altura sem escorrer um fio de baba e sem ter problemas técnicos relativos à prótese dentária! Está a valer uma embalagem de Viagra!
À medida que crescemos vamos ficando mais pequenos… Paradoxal e controverso, dito assim de uma só vez até corro o risco de chocar os idealistas mais conservadores e os pais de família. Peço desculpa a pouca sensibilidade e este meu jeito salpicadamente rude, mas o meu lado de criança de temps en temps manifesta-se e digo coisas assim sem lógica alguma e completamente descabidas aos olhares maduros e adultos de quem tem medo da opinião alheia, como a minha irmã do papão. Eu digo que ficamos mais pequenos, porque a nossa essência cai na tentação de se aprisionar, não vá ela pisar a linha do socialmente aceitável, e que ninguém ouse importunar sua malvadeza!
Mas não me julguem uma marginal e deslocada, idealista e revoltada que critica o modelo social actual. É a realidade actual, a ervilha em que vivemos. Regemo-nos pelas referências que a sociedade nos dá, crescemos nos meios em que sociedade nos acolhe, aprendemos a ser aquilo que a sociedade é. É um instinto animal de assimilação. Eu por exemplo nunca vi elefantes pendurados em árvores nem koalas tocarem o sino. Uns mais que outros absorvemos os padrões e adaptamo-nos. Não que isso seja totalmente mau, mas cabe-nos a nós interpretar e filtrar segundo a nossa maneira de ser aquilo que recebemos dos outros, e decidir o que ser ou não, mas sem que isso vá contra os nossos princípios básicos. Temos de ser um bocadinho aquilo que somos, a massa do nosso bolo mármore, e não o que gostaríamos que os outros vissem em nós. Eu por exemplo adorava ser vegetariana. O problema é que eu odeio vegetais…
19/09/2006
Para voismecêzes, com carinho e chocolate quente!
Para além da minha almofada e dos meus sapatos, outra coisa da máxima importância para mim e sem a qual seria bem mais díficil viver, e que não me posso esquecer de referir são os amigos. Pode soar um bocado cliché, afinal toda a gente diz que não consegue viver sem eles, mas acho que a questão é que a necessidade de ter amigos é uma coisa quase genética, biológica ou assim. O Homem, tal como outros animais, precisa de se relacionar com os da mesma espécie.
Por isso, achei por bem dedicar algumas linhas a esses compinchas e camaradas com C's grandes, isto é, aos verdadeiros amigos!
Que poético =')
Vou reforçar:
Tu! Que te ris na minha cara.
Tu! Que me apontas o que mais ninguém repara.
Tu! Que ficas com coisas que são minhas.
Tu! Que me dás calduços e belinhas.
Tu! Que me dizes o que eu não quero ouvir.
Tu! Que já me deixaste cair.
Tu! Que me lançaste a corda para subir.
Tu! Que não me deixaste desistir.
Tu! Que me irritas todos os dias.
Tu! Que ás vezes até me agonias. ( ...!)
Tu! Que falas do que mais ninguém pensa.
Tu! Que entraste aqui sem pedir licença.
Tu! Que me roubaste uma parte de mim.
Sim, Tu! Quem é que te mandou ser assim?
Tu! Que extingues os meus dias tristes...
Epa... Tu... que existes.
And the Oscar for the worst Drama Poetry goes to...
Por isso, achei por bem dedicar algumas linhas a esses compinchas e camaradas com C's grandes, isto é, aos verdadeiros amigos!
Que poético =')
Vou reforçar:
Tu! Que te ris na minha cara.
Tu! Que me apontas o que mais ninguém repara.
Tu! Que ficas com coisas que são minhas.
Tu! Que me dás calduços e belinhas.
Tu! Que me dizes o que eu não quero ouvir.
Tu! Que já me deixaste cair.
Tu! Que me lançaste a corda para subir.
Tu! Que não me deixaste desistir.
Tu! Que me irritas todos os dias.
Tu! Que ás vezes até me agonias. ( ...!)
Tu! Que falas do que mais ninguém pensa.
Tu! Que entraste aqui sem pedir licença.
Tu! Que me roubaste uma parte de mim.
Sim, Tu! Quem é que te mandou ser assim?
Tu! Que extingues os meus dias tristes...
Epa... Tu... que existes.
And the Oscar for the worst Drama Poetry goes to...
10/09/2006
Postiços
Nota: Eu e uma amiga minha, Mary Jo, abordamos este assunto, e resolvemos escrever algo sobre ele. Infelizmente, as férias meteram-se pelo meio (que se metam no meio de muitas mais coisas, como aulas e afins tudo bem, mas quando se trata destes assuntos de importância à escala mundial quer se dizer... que falta de timming!) , e acabámos por não finalizar a tese em conjunto. No entanto, devido a situções caricatas e recentes que me aguçaram o apetite literário, desatei a escrever desenfreadamente. Peço desculpa à Mary Jo por ter escrito sem ela, mas de certo muitas mais oportunidades virão!
*Desculpa Mary Jo, posso oferecer-te um rebuçado? =D
Cá vai disto:
Postiço, adj.: que se pode pôr e tirar; acrescentado a uma obra já concluída; que não é natural; fingido; falso; artificial; s.m. pl. Acessórios para caracterização.
A sociedade que se orgulhe da sua clareza e simplicidade: metade dela consegue ser descrita em duas linhas! Juro que me vieram as lágrimas aos olhos!
Eles andam por toda a parte, completamente disfarçados (não fosse esse o intuito dos postiços – disfarçar o que não se quer mostrar), mas são mais do que nós imaginamos, e mais falsificados do que a nossa vista microscópica e as nossas más-línguas implacáveis consigam decifrar.
Batalhões de Barbies e Ken’s esteticamente apetecíveis e estaticamente apáticos. Tudo neles é postiço, inclusive a mentalidade, ou a ausência dela… tanto faz! Autênticos exércitos de caras bonitas desfilam nas passerelles metropolitanas para um público de operários, camionistas rebarbados, e pessoas apressadas que só olham para a calçada que têm em frente dos pés. Isto é que eu chamo estrelato, hum? Qual Moda Lisboa… as minhas ambições são mesmo os piropos de alta categoria dos homens das obras do Marquês de Pombal.
Um dia conheci uma rapariga, numa ocasião minimamente formal, que resplandecia de autenticidade. Chegou, e fez uma entrada triunfal e teatral, que nem uma diva de cinema na passadeira vermelha em Hollywood, merecedora de flash’s supersónicos e ataques de histeria dos fãs. Não sei é se ela sabia que estava a entrar num escritório em Lisboa, com chão de madeira flutuante e uma péssima luminosidade fotográfica.
Primeiro impacto conseguido. Passemos aos pormenores (de cima para baixo, se bem que um bocado irrelevante, às tantas já nem sei o que é baixo e o que é cima): cabelo cuja cor natural já está esbatida debaixo de tanta tinta amarela-tremoço shinning power, com umas raízes pretas incriminatórias e sobreviventes, lutando desesperadamente para respirar um bocado da sua tonalidade natural; base 3 tons acima do tom natural da pele, assim num café com leite e raspas de laranja, porque o excesso de aplicação da nisso – uma cor que mais parece um cruzamento entre um japonês e um índio de fazer justiça às histórias do Lucky Luke; mamas postiças, ou um postiço para as mamas, como uma Barbie que se preze deve ter, assim a roçar o estilo Pamela Anderson – quanto mais tenderem para o infinito, melhor! As mãos… nunca vi tamanha Dália! Aquelas unhas são autênticas garras! Umas armas brancas! Não devia ser permitido! O Osama com umas unhas daquelas dominava o mundo! Unhas de gel, de tal forma enormes que penso ser quase fisicamente impossível escrever com elas postas. Mas la piéce de resistence, residia na unha do anelar, que de facto, já não existia… deteriorada talvez por erros de cálculo a tocar à campainha ou a tirar um qualquer espinafre da cova do dente. Não sei, de facto as hipóteses são ínfimas, afinal de contas, com umas unhas daquelas é preciso ter umas noções de espaço muito bem definidas!
E tudo o resto tinha um ar extremamente artificial, já nada do que ela fazia ou dizia parecia realmente genuíno. Passado cerca de 15 minutos, a Miss Amazing Arrival perdera todo o seu encanto, e tudo se resumia a montes e montes de artefactos sintetizados por industrias estéticas milionárias que vendem caras e corpos a quem já os tem… Fantástico como o negócio tem sucesso, um oculista que tentasse fazer o mesmo a alguém que visse bem, estaria no desemprego por esta altura.
Vamos lá ver: eu não critico quem se sente mal com a sua imagem, e decide fazer algo para mudar isso, alterar a sua imagem como bem entender para que se sinta realmente confortável num todo. O que me entristece é ver que há muito (boa) gente que se esquece do resto. Esse “resto” que implica ideias, valores, cultura, personalidade, etc. etc. etc.
A sociedade de hoje em dia promove a imagem, promove as caras, promove as figuras, promove a visão. Mas esquece-se que para as pessoas cegas, conotativa ou denotativamente, isso pouco interessa.
A mentalidade dos media incentivam a igualdade, a padronização, o comum, o indiferente. O homem tem evoluindo (ou será regredindo) cada vez mais para artificialidade, parece que foge das origens e do natural como o diabo da cruz. Não falo só a nível de estética mas também ao nível de outras indústrias, como a alimentação, os Organismos Geneticamente Modificados, os implantes, as plantações, os controles genéticos desenfreados, os Fast Foods. E como bom Fast Food que se preze, é rápido de comer e de fácil digestão. E cada vez há mais Fast Foods andantes, comida e gente de plástico, prontas a comer e descartar. São apetecíveis de facto, e aguça-nos todos os sentidos… mas se provar o Double Cheeseburger do McDonalds do Chiado ou do McDonalds do Saldanha, sabem-me exactamente ao mesmo! Falta-lhes o quelque chose, a hortelã-pimenta, o agridoce, falta-lhes o caroço da ameixa! Porque se uma ameixa bonitinha e púrpura é bonitinha e púrpura, é porque tem um caroço, que não se come, mas que a faz crescer. LINDO!
Onde quero chegar é que cada vez mais as pessoas se preocupam apenas com o que os olhos vêem, mas esquecem-se que o que está cá dentro, o que está atrás dos olhos e não se vê, é realmente o mais importante e nos dá a nossa identidade, o nosso bem mais precioso. E assim se vê cada vez mais Barbies, mais Ken’s, ao estilo Sr. Batata, desmontáveis e permutáveis conforme as tendências da moda ditam, pessoas que mais parecem que vêm em fascículos, construídas e montadas a preceito, como os guias descrevem e as televisões difundem. Já me estou a imaginar às peças, todos os domingos por apenas mais 2,50€ no jornal Expresso. Adoro!
É a geração do Lego, com todos os details para uma boa construção, digna de guiness. Apetrechos e postiços fashion, penduricalhos e modelitos de ultimo grito! É um dia a dia teatral e fingido, representado por bonecas insufláveis com frases gravadas e repetidas pelo puxar de um cordel, e que como insuflável que é não tem mais que ar na cabeça! E ainda se consegue ver um ou outro, ambiciosos e arrojados, que mandam uma ao poste, dão um pequeno deslize e querem marcar a diferença, exagerando colossalmente nos postiços, acabando o feitiço por se virar contra o feiticeiro. Já imaginaram a Dolly Parton a correr a meia maratona? Ao quilómetro 3 já tinha partido todos os dentes do maxilar inferior, no mínimo.
Portanto esta é mais uma história bonita de gente bonita que viveu triste para sempre.
*Desculpa Mary Jo, posso oferecer-te um rebuçado? =D
Cá vai disto:
Postiço, adj.: que se pode pôr e tirar; acrescentado a uma obra já concluída; que não é natural; fingido; falso; artificial; s.m. pl. Acessórios para caracterização.
A sociedade que se orgulhe da sua clareza e simplicidade: metade dela consegue ser descrita em duas linhas! Juro que me vieram as lágrimas aos olhos!
Eles andam por toda a parte, completamente disfarçados (não fosse esse o intuito dos postiços – disfarçar o que não se quer mostrar), mas são mais do que nós imaginamos, e mais falsificados do que a nossa vista microscópica e as nossas más-línguas implacáveis consigam decifrar.
Batalhões de Barbies e Ken’s esteticamente apetecíveis e estaticamente apáticos. Tudo neles é postiço, inclusive a mentalidade, ou a ausência dela… tanto faz! Autênticos exércitos de caras bonitas desfilam nas passerelles metropolitanas para um público de operários, camionistas rebarbados, e pessoas apressadas que só olham para a calçada que têm em frente dos pés. Isto é que eu chamo estrelato, hum? Qual Moda Lisboa… as minhas ambições são mesmo os piropos de alta categoria dos homens das obras do Marquês de Pombal.
Um dia conheci uma rapariga, numa ocasião minimamente formal, que resplandecia de autenticidade. Chegou, e fez uma entrada triunfal e teatral, que nem uma diva de cinema na passadeira vermelha em Hollywood, merecedora de flash’s supersónicos e ataques de histeria dos fãs. Não sei é se ela sabia que estava a entrar num escritório em Lisboa, com chão de madeira flutuante e uma péssima luminosidade fotográfica.
Primeiro impacto conseguido. Passemos aos pormenores (de cima para baixo, se bem que um bocado irrelevante, às tantas já nem sei o que é baixo e o que é cima): cabelo cuja cor natural já está esbatida debaixo de tanta tinta amarela-tremoço shinning power, com umas raízes pretas incriminatórias e sobreviventes, lutando desesperadamente para respirar um bocado da sua tonalidade natural; base 3 tons acima do tom natural da pele, assim num café com leite e raspas de laranja, porque o excesso de aplicação da nisso – uma cor que mais parece um cruzamento entre um japonês e um índio de fazer justiça às histórias do Lucky Luke; mamas postiças, ou um postiço para as mamas, como uma Barbie que se preze deve ter, assim a roçar o estilo Pamela Anderson – quanto mais tenderem para o infinito, melhor! As mãos… nunca vi tamanha Dália! Aquelas unhas são autênticas garras! Umas armas brancas! Não devia ser permitido! O Osama com umas unhas daquelas dominava o mundo! Unhas de gel, de tal forma enormes que penso ser quase fisicamente impossível escrever com elas postas. Mas la piéce de resistence, residia na unha do anelar, que de facto, já não existia… deteriorada talvez por erros de cálculo a tocar à campainha ou a tirar um qualquer espinafre da cova do dente. Não sei, de facto as hipóteses são ínfimas, afinal de contas, com umas unhas daquelas é preciso ter umas noções de espaço muito bem definidas!
E tudo o resto tinha um ar extremamente artificial, já nada do que ela fazia ou dizia parecia realmente genuíno. Passado cerca de 15 minutos, a Miss Amazing Arrival perdera todo o seu encanto, e tudo se resumia a montes e montes de artefactos sintetizados por industrias estéticas milionárias que vendem caras e corpos a quem já os tem… Fantástico como o negócio tem sucesso, um oculista que tentasse fazer o mesmo a alguém que visse bem, estaria no desemprego por esta altura.
Vamos lá ver: eu não critico quem se sente mal com a sua imagem, e decide fazer algo para mudar isso, alterar a sua imagem como bem entender para que se sinta realmente confortável num todo. O que me entristece é ver que há muito (boa) gente que se esquece do resto. Esse “resto” que implica ideias, valores, cultura, personalidade, etc. etc. etc.
A sociedade de hoje em dia promove a imagem, promove as caras, promove as figuras, promove a visão. Mas esquece-se que para as pessoas cegas, conotativa ou denotativamente, isso pouco interessa.
A mentalidade dos media incentivam a igualdade, a padronização, o comum, o indiferente. O homem tem evoluindo (ou será regredindo) cada vez mais para artificialidade, parece que foge das origens e do natural como o diabo da cruz. Não falo só a nível de estética mas também ao nível de outras indústrias, como a alimentação, os Organismos Geneticamente Modificados, os implantes, as plantações, os controles genéticos desenfreados, os Fast Foods. E como bom Fast Food que se preze, é rápido de comer e de fácil digestão. E cada vez há mais Fast Foods andantes, comida e gente de plástico, prontas a comer e descartar. São apetecíveis de facto, e aguça-nos todos os sentidos… mas se provar o Double Cheeseburger do McDonalds do Chiado ou do McDonalds do Saldanha, sabem-me exactamente ao mesmo! Falta-lhes o quelque chose, a hortelã-pimenta, o agridoce, falta-lhes o caroço da ameixa! Porque se uma ameixa bonitinha e púrpura é bonitinha e púrpura, é porque tem um caroço, que não se come, mas que a faz crescer. LINDO!
Onde quero chegar é que cada vez mais as pessoas se preocupam apenas com o que os olhos vêem, mas esquecem-se que o que está cá dentro, o que está atrás dos olhos e não se vê, é realmente o mais importante e nos dá a nossa identidade, o nosso bem mais precioso. E assim se vê cada vez mais Barbies, mais Ken’s, ao estilo Sr. Batata, desmontáveis e permutáveis conforme as tendências da moda ditam, pessoas que mais parecem que vêm em fascículos, construídas e montadas a preceito, como os guias descrevem e as televisões difundem. Já me estou a imaginar às peças, todos os domingos por apenas mais 2,50€ no jornal Expresso. Adoro!
É a geração do Lego, com todos os details para uma boa construção, digna de guiness. Apetrechos e postiços fashion, penduricalhos e modelitos de ultimo grito! É um dia a dia teatral e fingido, representado por bonecas insufláveis com frases gravadas e repetidas pelo puxar de um cordel, e que como insuflável que é não tem mais que ar na cabeça! E ainda se consegue ver um ou outro, ambiciosos e arrojados, que mandam uma ao poste, dão um pequeno deslize e querem marcar a diferença, exagerando colossalmente nos postiços, acabando o feitiço por se virar contra o feiticeiro. Já imaginaram a Dolly Parton a correr a meia maratona? Ao quilómetro 3 já tinha partido todos os dentes do maxilar inferior, no mínimo.
Portanto esta é mais uma história bonita de gente bonita que viveu triste para sempre.
03/09/2006
Elixir da Beleza
Nao podia deixar passar este prego televisivo que tive o "prazer" de assistir enquanto fazia mais um habitual Zapping-FlashGordon na esperança vã de encontrar algum programa que fosse um bocadinho mais além do que mexericos adolescentes irreais e videoclips, que a geração MTV tanto gosta, com mulheres sem esqueleto que desafiam as leis da fisica e da anatomia, esfregando tudo e mais alguma coisa na cara de rappers com ar de reis só porque teem ali umas nadegas vibratórias.
Não sei se já tiveram oportunidade de ver o mais recente anúncio da Cidade FM em que as Pussycat Dolls estão ali expostas ao estilo peça-de-bovino-na-vitrine-do-talho, e dizem algo como: "Olá, we are the Pussycat Dolls, and you're looking really HOT , because you're listening to Cidade FM"....
ORA BEM... isto é o que eu chamo de uma frase lógica, até porque a minha vizinha que é feia todos os dias, coitada, ouve a Cidade FM e é completle and extraordinarily HOT...
Corporatión Dermostética e afins, preparem-se... Há concorrência pela certa
Não sei se já tiveram oportunidade de ver o mais recente anúncio da Cidade FM em que as Pussycat Dolls estão ali expostas ao estilo peça-de-bovino-na-vitrine-do-talho, e dizem algo como: "Olá, we are the Pussycat Dolls, and you're looking really HOT , because you're listening to Cidade FM"....
ORA BEM... isto é o que eu chamo de uma frase lógica, até porque a minha vizinha que é feia todos os dias, coitada, ouve a Cidade FM e é completle and extraordinarily HOT...
Corporatión Dermostética e afins, preparem-se... Há concorrência pela certa
11/08/2006
Música para os ouvidos e não só!

E porque temos de ser uns p'rós outros, aqui fica uma sugestão musical para os amantes do chillout e boa música em geral. Esta não é música qualquer, é música compreensível, isto é... não que toda a gente compreenda, mas sim para ser compreendida por quem consiga.
As notas ideais para acompanhar uma salada ou uns petiscos numa esplanada agradável na praia, num fim de tarde de Verão... Hmmm....
Nitin Sawhney, uma mistura genial de culturas, música electrónica e tradicional de vários cantos do mundo, com uma pitada de acid jazz em alguns temas, numa onda chill estremamente transportadora... uma delícia para os ouvidos e para a cabeça!
09/08/2006
Qual.idade de Vida

Qualidade de vida. É um tópico atraente, sem dúvida. Atira-nos imediatamente a mente contra o nosso conceito de conforto e bem-estar. Mas é um tópico com conotações várias, para pessoas várias e estilos de vida variados. Ou avariados, chama-lhe o que quiseres. Porque hoje em dia, se há pessoas que fazem da vida um processo sistemático e robotizado em que os dias seguem uma sequência e com.sequências sem essência, parece-me a meu ver que para esse conceito pragmático de dia-a-dia, esperava-se resultados mais saciantes que um SLK estacionado à porta de casa na Brandoa. Portanto deve haver uma avaria nesse sistema mecânico, sim.
Era uma, duas ou três vezes (ou muitas mais) um senhor, vamos chamar-lhe Zacarias, sem ofensa aos Zacarias de Portugal e arredores mas foi o primeiro que me ocorreu.
O Sr. Zacarias era um empresário de sucesso, cheio de dinheiro, workaholic, alcoólico, com 3 filhos mas pai de nenhum deles (não por culpa da mulher que desprezava mas pelo desprezo que lhes dava), ausente, imponente, deprimente. Enfim, o ideal utópico de marido, o protótipo de qualquer mulher, esposa ou dona de casa. Eu inclusive era capaz de largar tudo e correr para os braços de um homem assim, como o Sr. Zacarias.
Um dia perguntei ao Sr. Zacarias se ele tinha qualidade de vida. Ele disse que sim de barriga cheia. E eu disse “… ‘Tá bem.” E então pensei eu com os meus botões, sim porque nós pensamos muitas vezes juntos, qual seria o conceito de qualidade de vida do Sr. Zacarias. E decidi perguntar-lhe num jeito retórico, já à espera de uma resposta bem valorizada na bolsa internacional, com gastos de envio mais IVA. E assim foi, o Sr. Zacarias respondeu: “ Miúda, eu tenho um SLK à porta de casa, um plasma na sala, um apartamento em Vilamoura, um iate topo de gama, um cargo importante na empresa, e um ordenado chorudo… O que é que eu posso querer mais?” e eu disse “…’Tá bem.”. Não quero parecer muito repetitiva nem simplista, mas porra… é que fico sem palavras! Toda a minha filosofia de vida e todos os meus valores são diminutos ao pé de uma visão tão enriquecedora e tão bonita deste queijo suíço a que chamam vida.
E o Sr. Zacarias, para rematar e acabar em beleza ainda acrescentou: “Se isto não é qualidade de vida… então não sei o que é!” e eu pronto! 2-o para o Sr. Zacarias. Este homem não dá hipótese. Ele sabe perfeitamente o que é qualidade de vida e eu que pensava que era feliz, não tenho o SLK, portanto sou uma merda e a minha vida cheira mal.
Um dia o Sr. Zacarias teve um pequeno desentendimento com o patrão que era tão ou mais cabrão do que ele, e então o Sr. Zacarias foi descartado como as fraldas sujas do meu irmão, e o seu pequeno império de felicidade ficou hipotecado até à sua mãe, mulher e filhos, que o deixaram pendurado com a sua qualidade de vida guardada num banco qualquer. O que me consolou foi o facto de o meu queijo suíço mal cheiroso ainda ser meu. O Sr. Zacarias nem os restos, o que me dá uma certa imagem de rato de esgoto. Não sei.
Já eu, por exemplo, passei os últimos 6 dias a dormir 3 horas por noite, a comer 2 vezes ao dia, a encontrar bichezas 6 vezes por minuto, a ser picada 8 vezes por hora, a ir à casa de banho uma vez por dia e outras tantas coisas em proporções pouco convidativas, como a razão de atum para a quantidade de outros alimentos que deve ter sido algo como 6/2, ou coisa que o valha. Passei 6 dias a dormir em posições pouco ergonómicas, a lavar-me em chuveiros pouco higiénicos que concentravam motins de gente suja lutando com a própria vida e arrancando olhos por 10 minutos de água canalizada, a defecar em pliê e malabarismos similares de alto grau de dificuldade, a suportar temperaturas vulcânicas às 9 da matina, multidões que se atropelavam por meio metro quadrado de autocarro, e um rol imenso de adversidades várias. Quando voltei ao conforto metropolitano do meu lar, quase que beijei as porcelanas da casa de banho, idolatrei a suave textura do piaçá, senti o aroma a desinfectante, levitei na minha cama perfeitamente horizontal, dei graças pelas bolachas Maria na dispensa, e pelo chá de hortelã-pimenta na chaleira, derreti com o cheirinho a pão quente pela manhã, e comidas caseiras com uma pitada de carinho maternal. O fresco do ar condicionado tinha um efeito quase orgásmico, e a água do duche parecia uma fonte celestial. De facto todo o conforto do lar nos dá uma sensação de bem-estar incomparável. Mas na manhã seguinte já sentia falta dos risos, falta das pessoas, falta da música improvisada em cima de um joelho e na ponta de um cigarro, falta dos desconhecidos que se juntavam para um serão partilhado sem pedir nada em troca, falta das fotografias, falta dos abraços, falta das olheiras, falta do sol alentejano, falta das vozes e das gentes, falta do festival, falta da festa, tudo faltava menos as recordações.
Fui à praia, vi o pôr-do-sol, vi o mar, vi a areia, vi os reflexos daqueles dias no mar da Estremadura. E vi que a diferença de me sentir confortável, era uma migalha do meu pão saloio com queijo suíço. Era um pedacinho de bem-estar na minha qualidade de vida. A sensação que vinha da praia, do pôr-do-sol, do mar, da areia daqueles dias loucos e alentejanos ou dos dias calmos da Estremadura, era a mesma. O bem-estar residia nas pessoas, nos cheiros, nas experiências, nessa cangalhada toda que nos aquece a alma cá de uma maneira… Qualidade de vida, para mim, não são carros e casas de banho esterilizadas… qualidade de vida é vivê-la confortável na sua personalidade, nas coisas que mais gostamos, nas coisas saudáveis, nas pessoas, nas experiências, nos sabores e nos cheiros, nas imagens, nas recordações, nas pitadas de hortelã-pimenta, é ter uma idade cronológica e uma idade espiritual diferentes. Ou ter a mesma idade cronológica e espiritual mas vividas segundo a segundo. É perguntar Qual.idade é que temos e não saber responder ao certo. É ir comendo o queijo suíço com as seus buracos e falhas, mas saber-nos bem à mesma. É isso tudo e pronto. Tenho dito.
28/07/2006
A minha avó e dois dedos de conversa
Há aí por esse mundo quem tenha carros topo de gama. Há quem tenha mansões modestas aonde cabia Lisboa inteira. Há também quem tenha roupa interior ou lingerie que leiloadas serviam para alimentar vinte e duas aldeias em África. Há quem tenha músculos de fazer invejar o Van Dame ou o Stalone. Há quem tenha um par de mamas de três quilos e seiscentas cada uma. Eu tenho uma avó. Uma avó muito à frente que põe qualquer um knock out. Se a minha avó trabalhasse punha qualquer um a viver do fundo de desemprego. Por onde ela passa, deixa um rasto de cinza e destruição intelectual.
Já há muito que estou para escrever acerca deste pequeno tesouro literário que é a minha avó. Então decidi, finalmente, fazer um pequeno estudo, um pequeno apontamento sobre esta jóia da Língua Portuguesa. E decidi igualmente botar aqui esta posta ortográfica de conteúdo semântico e gramatical relevante, para que qualquer estudante ou aficionado das Línguas tenha aqui uma fonte preciosa de estudo.
Todo este esplendor literário prolifera quando se junta a minha avó e um meio de comunicação, seja ele qual for. Mas vou-me restringir apenas ao telefone, que de todos é o que constitui a melhor ferramenta de estudo para este fenómeno da língua portuguesa.
O que se passa é que a minha avó quando levanta o auscultador e digita os algarismos do número telefónico de algum parente ou amigo próximo, dá inicio sem saber a um discurso digno de ser escrito e nomeado para o Prémio Nobel da Literatura. Basicamente a minha avó fala muito. Se acham que a Teresa Guilherme fala muito, desenganem-se, a minha avó fala mais. Posso inclusive afirmar que a minha avó quase que nasceu com um dom. A minha avó tem, de facto, uma aptidão transcendente para a comunicação.
Numa simples e corriqueira conversa telefónica quotidiana, a minha avó consegue incluir os mais diversos elementos gramaticais que se possa imaginar, num tempo recorde de 7 minutos, ou coisa que o valha. Qual Saramago, qual Fernando Pessoa, qual Virgílio Ferreira… a minha avó tem muito mais paleio que todos eles juntos em desgarrada. Literalmente. Se lhe déssemos liberdade total de expressão, o discurso dela tenderia para o infinito, vão por mim.
Vou portanto debruçar-me apenas sobre os aspectos mais presentes e mais marcantes dos imensos discursos da minha avó.
Quando atendemos o telefone, após os rotineiros cumprimentos e perguntas da praxe, a minha avó atira logo com uma descrição pormenorizada da sua situação actual. Descrições e enumerações são o seu forte. Dois recursos estilísticos logo para iniciar a refeição, tipo aperitivo. Geralmente começa a frase com: “Estava aqui a ver televisão…” ou algo dessa ordem. Quase como se nos informasse do estado da bolsa, ela informa-nos do seu estado de espírito. De seguida inclui logo a informação completa do estado do tempo para o dia, seguido da frase: “ (…) mas com o meu ar condicionado, é outra coisa!”. A minha avó desde que tem aquele ar condicionado que não é a mesma. Parece uma mulher muito mais realizada, muito mais confortável na vida e na sala de estar.
Depois da informação meteorológica segue-se a ementa. Faz então uma nova descrição e enumeração detalhada do seu menu, forma e local de confecção, e uma enumeração de todas as percepções sensoriais, como sabor, cheiro e aspecto.
Dada a informação gastronómica, segue-se os acontecimentos do dia, como as conversas bairristas com vizinhos, amigos ou parentes. É aí que entra o discurso directo. Ao contrário de resumir o diálogo e restringi-lo ao conteúdo fulcral, não. A minha avó cita todas as passagens. Assim como na Bíblia, tipo “Evangelho segundo Judas…”, os diálogos pela boca da minha avó seriam “Postulados de bica na mão segundo Clotilde”. E é nesta altura que se inicia um fogo cerrado de “e eu disse, e ele disse, e eu disse, e ele disse” até que não restem mais palavras por dizer.
Outra característica muito presente no discurso da minha avó é sem dúvida a introspecção. Quase num estilo lírico, a minha avó expõe todas as suas introspecções por palavras, geralmente introduzidas pela frase: “e eu pensei assim: (…)”.
Finalmente devo fazer referência ainda à relatividade do discurso. No discurso da minha avó existe muita subjectividade. Tudo é relativo. Uma árvore pode não ser uma árvore. Um pássaro pode não ser um pássaro. Um chinelo pode não ser um chinelo. E tudo isto porque a minha avó tem a arte de substituir harmoniosamente grande parte dos substantivos por uma palavra universal, multisignificativa e com um rol imenso de conotações: a palavra “coisa” ou a sua derivada masculina, “coiso”. E assim tudo ganha um significado próprio, significado esse escondido apenas no subconsciente da autora, neste caso, a minha avó. Cabe-nos a nós, simples ouvintes, decifrar todo o conteúdo subjacente à conversa, o que a torna consideravelmente mais interactiva!
Portanto como vêem, o conteúdo literário destas conversas é imenso, uma autêntica relíquia cultural.
Deixo agora um pequeno excerto do que são as conversas telefónicas com a avó Monroe, para vosso deleito e apreço.
Avó liga-me, eu atendo:
- Estou?
- Olá querida, tudo bem contigo?
- Sim e contigo?
- Também! Estava aqui sentada na sala a ver aquela novela do coiso… ai aquela dos irmãos, sabes que está quase a acabar?
- Sim, sei…
- Por acaso é muito gira, ela agora vai casar, estava aqui entretida a ver, enquanto vou espreitando a outra da 3.
- Pois…
- Bem hoje esteve um calor, uma coisa horrível, que eu saí à tarde para ir ao Big Ben tomar um café, e quando chego a casa pensei assim: “Bem está tanto calor que se calhar é melhor ligar o ar condicionado”, e agora está tão fresquinho, vinte e um graus, sabe mesmo bem!
- Sim, pois é…
- Sabes que dão mais calor para amanhã ainda! O que vale é que eu tenho o meu ar condicionado.
- Pois é, avó…
- Olha quando fui ao Big Ben, encontrei a coisa, e ela disse…
- A coisa quem?
- A coisa… a minha amiga! E então ela disse: “Olá, está boa? Há tanto tempo!” e eu disse: “é verdade, então e os meninos?” e ela disse: “Olhe um vai-se casar agora” e eu disse “Ah, veja só, já estão tão grandes…” – E segue-se um rol imenso de “e eu disse, e ela disse, e eu disse, e ela disse…”
- Hum, hum…
- Bem, depois fiz uma batatinha cozida com peixinho grelhado que já não fazia há imenso tempo… olha tenrinho, tenrinho, tenrinho! Sabia tão bem… Consolei-me!
- Pois, que bom… Olha vou passar à mãe está bem?
- Está bem querida, passa lá. Beijinhos!
- Beijinhos, avó!
E a saga recomeça…
Dois dedos de conversa? Nem as minhas duas mãos chegam sequer! Mas não faz mal, felizmente tenho as dela para ajudar a contar!
Já há muito que estou para escrever acerca deste pequeno tesouro literário que é a minha avó. Então decidi, finalmente, fazer um pequeno estudo, um pequeno apontamento sobre esta jóia da Língua Portuguesa. E decidi igualmente botar aqui esta posta ortográfica de conteúdo semântico e gramatical relevante, para que qualquer estudante ou aficionado das Línguas tenha aqui uma fonte preciosa de estudo.
Todo este esplendor literário prolifera quando se junta a minha avó e um meio de comunicação, seja ele qual for. Mas vou-me restringir apenas ao telefone, que de todos é o que constitui a melhor ferramenta de estudo para este fenómeno da língua portuguesa.
O que se passa é que a minha avó quando levanta o auscultador e digita os algarismos do número telefónico de algum parente ou amigo próximo, dá inicio sem saber a um discurso digno de ser escrito e nomeado para o Prémio Nobel da Literatura. Basicamente a minha avó fala muito. Se acham que a Teresa Guilherme fala muito, desenganem-se, a minha avó fala mais. Posso inclusive afirmar que a minha avó quase que nasceu com um dom. A minha avó tem, de facto, uma aptidão transcendente para a comunicação.
Numa simples e corriqueira conversa telefónica quotidiana, a minha avó consegue incluir os mais diversos elementos gramaticais que se possa imaginar, num tempo recorde de 7 minutos, ou coisa que o valha. Qual Saramago, qual Fernando Pessoa, qual Virgílio Ferreira… a minha avó tem muito mais paleio que todos eles juntos em desgarrada. Literalmente. Se lhe déssemos liberdade total de expressão, o discurso dela tenderia para o infinito, vão por mim.
Vou portanto debruçar-me apenas sobre os aspectos mais presentes e mais marcantes dos imensos discursos da minha avó.
Quando atendemos o telefone, após os rotineiros cumprimentos e perguntas da praxe, a minha avó atira logo com uma descrição pormenorizada da sua situação actual. Descrições e enumerações são o seu forte. Dois recursos estilísticos logo para iniciar a refeição, tipo aperitivo. Geralmente começa a frase com: “Estava aqui a ver televisão…” ou algo dessa ordem. Quase como se nos informasse do estado da bolsa, ela informa-nos do seu estado de espírito. De seguida inclui logo a informação completa do estado do tempo para o dia, seguido da frase: “ (…) mas com o meu ar condicionado, é outra coisa!”. A minha avó desde que tem aquele ar condicionado que não é a mesma. Parece uma mulher muito mais realizada, muito mais confortável na vida e na sala de estar.
Depois da informação meteorológica segue-se a ementa. Faz então uma nova descrição e enumeração detalhada do seu menu, forma e local de confecção, e uma enumeração de todas as percepções sensoriais, como sabor, cheiro e aspecto.
Dada a informação gastronómica, segue-se os acontecimentos do dia, como as conversas bairristas com vizinhos, amigos ou parentes. É aí que entra o discurso directo. Ao contrário de resumir o diálogo e restringi-lo ao conteúdo fulcral, não. A minha avó cita todas as passagens. Assim como na Bíblia, tipo “Evangelho segundo Judas…”, os diálogos pela boca da minha avó seriam “Postulados de bica na mão segundo Clotilde”. E é nesta altura que se inicia um fogo cerrado de “e eu disse, e ele disse, e eu disse, e ele disse” até que não restem mais palavras por dizer.
Outra característica muito presente no discurso da minha avó é sem dúvida a introspecção. Quase num estilo lírico, a minha avó expõe todas as suas introspecções por palavras, geralmente introduzidas pela frase: “e eu pensei assim: (…)”.
Finalmente devo fazer referência ainda à relatividade do discurso. No discurso da minha avó existe muita subjectividade. Tudo é relativo. Uma árvore pode não ser uma árvore. Um pássaro pode não ser um pássaro. Um chinelo pode não ser um chinelo. E tudo isto porque a minha avó tem a arte de substituir harmoniosamente grande parte dos substantivos por uma palavra universal, multisignificativa e com um rol imenso de conotações: a palavra “coisa” ou a sua derivada masculina, “coiso”. E assim tudo ganha um significado próprio, significado esse escondido apenas no subconsciente da autora, neste caso, a minha avó. Cabe-nos a nós, simples ouvintes, decifrar todo o conteúdo subjacente à conversa, o que a torna consideravelmente mais interactiva!
Portanto como vêem, o conteúdo literário destas conversas é imenso, uma autêntica relíquia cultural.
Deixo agora um pequeno excerto do que são as conversas telefónicas com a avó Monroe, para vosso deleito e apreço.
Avó liga-me, eu atendo:
- Estou?
- Olá querida, tudo bem contigo?
- Sim e contigo?
- Também! Estava aqui sentada na sala a ver aquela novela do coiso… ai aquela dos irmãos, sabes que está quase a acabar?
- Sim, sei…
- Por acaso é muito gira, ela agora vai casar, estava aqui entretida a ver, enquanto vou espreitando a outra da 3.
- Pois…
- Bem hoje esteve um calor, uma coisa horrível, que eu saí à tarde para ir ao Big Ben tomar um café, e quando chego a casa pensei assim: “Bem está tanto calor que se calhar é melhor ligar o ar condicionado”, e agora está tão fresquinho, vinte e um graus, sabe mesmo bem!
- Sim, pois é…
- Sabes que dão mais calor para amanhã ainda! O que vale é que eu tenho o meu ar condicionado.
- Pois é, avó…
- Olha quando fui ao Big Ben, encontrei a coisa, e ela disse…
- A coisa quem?
- A coisa… a minha amiga! E então ela disse: “Olá, está boa? Há tanto tempo!” e eu disse: “é verdade, então e os meninos?” e ela disse: “Olhe um vai-se casar agora” e eu disse “Ah, veja só, já estão tão grandes…” – E segue-se um rol imenso de “e eu disse, e ela disse, e eu disse, e ela disse…”
- Hum, hum…
- Bem, depois fiz uma batatinha cozida com peixinho grelhado que já não fazia há imenso tempo… olha tenrinho, tenrinho, tenrinho! Sabia tão bem… Consolei-me!
- Pois, que bom… Olha vou passar à mãe está bem?
- Está bem querida, passa lá. Beijinhos!
- Beijinhos, avó!
E a saga recomeça…
Dois dedos de conversa? Nem as minhas duas mãos chegam sequer! Mas não faz mal, felizmente tenho as dela para ajudar a contar!
20/07/2006
...aahm Férias?
... Não queria caír no cliché de festejar o primeiro dia de férias com o típico grito ortográfico em caps lock eufórico e libertador, mas nao resisto:
!!!!!FÉRIAS!!!!!
Esta é das únicas palavras que eu conheço que podem ser pronunciadas uma catrefada de vezes, das bocas mais diferentes que se possa imaginar, nas mais variadas línguas, que nunca perde o seu impacto positivo no dia de quem quer que seja. E deve ser também das palavras com mais conotações e sentidos subjacentes que conheço. Senão vejamos, a palavra férias pode ser sinónimo de:
a) Descanço
b) Loucura
c) Viagens
d) Bebedeiras
d1) Monólogos gregorianos com loiça de W.C.
d2) Ressaca
e) Abstinência de valores
f) Bronzes invejáveis
f1) Escaldões inflamáveis
g)Pores-do-sol memoráveis
h)Nasceres-do-sol igualmente memoráveis (mas provavelmente não tão nítidos)
*É de referir que entre as alíneas g) e h) não existe qualquer tipo de descanço.
i) Gargalhadas
j) Saudades
.
.
.
etc.
E pronto, isto é tudo muito bonito e muito batido, mas o que eu gosto mesmo nas férias é de haver desenhos animados todos os dias de manhã! =D
Ah! E os chás gelados de pêssego, canela, limão e hortelã ..hmmm
14/07/2006
Ministério da Educação
Escrevi este mail à Sra. Ministra da Educação, a propósito das últimas abébias que foram dadas apenas a alguns alunos, um bocadinho injusto para os outros, digo eu.
Quem partilhe da mesma opinião, pode fazer copy e encaminhar o mail para a seguinte morada: see@me.gove.pt .
Provavelmente eles vão fazer o que sempre fizeram com mails e cartas como este, que é limpar o rabinho com eles, mas vamos.lhes dar hard paper, nao o papel higiénico de cetim e cheiro a rosas a que os seus rabinhos governamentais estão tão habituados!
Hão-de ficar com hemorróidas e o rabinho assado... Tenho dito.
Exma. Sra. Ministra da Educação:
Venho por este meio demonstrar a minha incredibilidade e a minha indignação com as últimas notícias que chegaram até nós sobre as alterações do Acesso ao Ensino Superior exclusivas para apenas um restrito grupo de alunos.
Confirmei junto do Ministério da Educação essa informação, para fundamentar as minhas acções, já que muitos são os que não o têm feito por aqui. De facto, foi-me confirmada a notícia de que tinha sido encaminhado para todas as escolas um despacho que consistia em dar uma segunda oportunidade apenas a alguns alunos, ou deverei antes dizer, passo a expressão, "uma palmadinha nas costas" ?
Segundo consta, os alunos que fizeram o exame de Química e Física do novo programa, podem pela primeira vez infringir as regras até então sempre tão dogmáticas e respeitadas do acesso ao Ensino Superior, e repetir o exame na 2ª Fase, mas concorrer na 1ª Fase de candidaturas. Feito Histórico, este, já que antes nunca se abriram excepções às regras do Ministério da Educação, pelo menos que eu, ou o Portugal cá fora saiba, o que também torna essa questão bastante relativa.
A vossa justificação para este acontecimento baseia-se no facto de ter havido uma elevada taxa de insucesso a nível nacional no exame de Química e Física, em que a média rondou os 6,9 valores e os 7,7 valores respectivamente. Um descalabro, até porque nos anos anteriores o sucesso era exponencialmente maior, quais Doutorados de palmo e meio, e nunca antes se verificou médias negativas em qualquer outra disciplina, impensável até. Peço desculpa pela ironia, mas de facto não é a primeira vez que somos confrontados com notas negativas, insucesso escolar e polémicas em torno dos exames. Sempre houve contestações, notas muito baixas e estatísticas pouco simpáticas. Para além disso, como se verificou, as médias desceram bastante tanto a Química e Física do programa novo como do programa antigo, como a muitas outras disciplinas. Portanto deduzo que o problema não tenha sido pontual do exame de Química e Física, mas sim a nível das disciplinas em geral.
Houve um boato, como sempre há, de que existiam questões dúbias no exame de Química, mas que ouvi hoje ser desmentido por uma representante da Comissão responsável pelos Exames Nacionais numa entrevista para a rádio TSF. Portanto exclui-se uma justificação baseada em qualquer tipo de falhas técnicas no Exame.
Se, por conseguinte, esta alteração se deve somente ao insucesso nos Exames de Química e Física do programa novo, gostaria de saber então a razão de a mesma alteração no acesso ao Ensino Superior não abranger também os alunos que fizeram o Exame de Matemática do código 435, cuja média a nível nacional, não foi apenas mais baixa que a média a Química e Física do programa novo, como A mais baixa nas principais provas de Acesso ao Ensino Superior.
Outra questão que deve ser tida também em conta, é o facto de os resultados dos exames a Química e Física não se terem afastado muito do valor das notas finais, e portanto do desempenho escolar dos alunos ao longo do ano. Não vejo assim a razão do insucesso nessas disciplinas exclusivamente devido aos exames, mas talvez a uma deficiente adaptação a um novo programa, quer por parte dos alunos quer por parte dos professores, como também possivelmente devido a um grau de exigência demasiado elevado no Exames Nacionais.
Esta decisão do Ministério de dar uma segunda oportunidade apenas a estes alunos é, a meu ver e a muitos outros, um tremenda injustiça para os restantes alunos que tal como os de Química e Física, têm outras disciplinas específicas às quais precisam de bons resultados, e que se sujeitam como sempre foi feito, às condições que sempre foram seguidas, pelo menos até à presente data. Sem falar nos alunos que optaram por fazer os Exames de Química e Física apenas na segunda fase, para terem mais tempo para estudar e que evitaram a 1ª Fase, pois se lhes corresse mal e tentassem de novo, já teriam um número muito mais reduzido de vagas à sua disposição, agora terão só uma oportunidade e de facto poderiam ter tido duas! Façam mais fases então! Três, quatro, uma mão-cheia delas, porque não?
Cria-se assim um ambiente de filhos e enteados pouco saudável para os jovens que vêm nos políticos e órgãos de estado as referências do Portugal de Hoje e de amanhã. Este exemplo não dá qualquer credibilidade ao Governo e ao Sistema que rege o nosso País.
Se de facto, se concordasse em dar essa segunda oportunidade a alguns alunos, também deveria ser dada aos restantes, que não têm culpa das inconstâncias da Educação, dos Órgãos Dirigentes e do Governo em si.
Não quero acusar os Órgãos Responsáveis de favoritismos, interesses pessoais, desonestidade, das chamadas "cunhas", ou de manipulações, porque não me cabe a mim esses julgamentos, e já agora se assim fosse gostaria que me informassem das condições de adopção ou de algum dirigente que queira adoptar adolescentes, para também me estenderem uma passadeira vermelha até à porta da Faculdade.
Quero apenas deixar aqui escrito que se algo está mal, não é só nos exames mas sim o ensino em si.
Os meus sinceros cumprimentos
Um(a) aluno(a) como os outros
14/07/2006
Quem partilhe da mesma opinião, pode fazer copy e encaminhar o mail para a seguinte morada: see@me.gove.pt .
Provavelmente eles vão fazer o que sempre fizeram com mails e cartas como este, que é limpar o rabinho com eles, mas vamos.lhes dar hard paper, nao o papel higiénico de cetim e cheiro a rosas a que os seus rabinhos governamentais estão tão habituados!
Hão-de ficar com hemorróidas e o rabinho assado... Tenho dito.
Exma. Sra. Ministra da Educação:
Venho por este meio demonstrar a minha incredibilidade e a minha indignação com as últimas notícias que chegaram até nós sobre as alterações do Acesso ao Ensino Superior exclusivas para apenas um restrito grupo de alunos.
Confirmei junto do Ministério da Educação essa informação, para fundamentar as minhas acções, já que muitos são os que não o têm feito por aqui. De facto, foi-me confirmada a notícia de que tinha sido encaminhado para todas as escolas um despacho que consistia em dar uma segunda oportunidade apenas a alguns alunos, ou deverei antes dizer, passo a expressão, "uma palmadinha nas costas" ?
Segundo consta, os alunos que fizeram o exame de Química e Física do novo programa, podem pela primeira vez infringir as regras até então sempre tão dogmáticas e respeitadas do acesso ao Ensino Superior, e repetir o exame na 2ª Fase, mas concorrer na 1ª Fase de candidaturas. Feito Histórico, este, já que antes nunca se abriram excepções às regras do Ministério da Educação, pelo menos que eu, ou o Portugal cá fora saiba, o que também torna essa questão bastante relativa.
A vossa justificação para este acontecimento baseia-se no facto de ter havido uma elevada taxa de insucesso a nível nacional no exame de Química e Física, em que a média rondou os 6,9 valores e os 7,7 valores respectivamente. Um descalabro, até porque nos anos anteriores o sucesso era exponencialmente maior, quais Doutorados de palmo e meio, e nunca antes se verificou médias negativas em qualquer outra disciplina, impensável até. Peço desculpa pela ironia, mas de facto não é a primeira vez que somos confrontados com notas negativas, insucesso escolar e polémicas em torno dos exames. Sempre houve contestações, notas muito baixas e estatísticas pouco simpáticas. Para além disso, como se verificou, as médias desceram bastante tanto a Química e Física do programa novo como do programa antigo, como a muitas outras disciplinas. Portanto deduzo que o problema não tenha sido pontual do exame de Química e Física, mas sim a nível das disciplinas em geral.
Houve um boato, como sempre há, de que existiam questões dúbias no exame de Química, mas que ouvi hoje ser desmentido por uma representante da Comissão responsável pelos Exames Nacionais numa entrevista para a rádio TSF. Portanto exclui-se uma justificação baseada em qualquer tipo de falhas técnicas no Exame.
Se, por conseguinte, esta alteração se deve somente ao insucesso nos Exames de Química e Física do programa novo, gostaria de saber então a razão de a mesma alteração no acesso ao Ensino Superior não abranger também os alunos que fizeram o Exame de Matemática do código 435, cuja média a nível nacional, não foi apenas mais baixa que a média a Química e Física do programa novo, como A mais baixa nas principais provas de Acesso ao Ensino Superior.
Outra questão que deve ser tida também em conta, é o facto de os resultados dos exames a Química e Física não se terem afastado muito do valor das notas finais, e portanto do desempenho escolar dos alunos ao longo do ano. Não vejo assim a razão do insucesso nessas disciplinas exclusivamente devido aos exames, mas talvez a uma deficiente adaptação a um novo programa, quer por parte dos alunos quer por parte dos professores, como também possivelmente devido a um grau de exigência demasiado elevado no Exames Nacionais.
Esta decisão do Ministério de dar uma segunda oportunidade apenas a estes alunos é, a meu ver e a muitos outros, um tremenda injustiça para os restantes alunos que tal como os de Química e Física, têm outras disciplinas específicas às quais precisam de bons resultados, e que se sujeitam como sempre foi feito, às condições que sempre foram seguidas, pelo menos até à presente data. Sem falar nos alunos que optaram por fazer os Exames de Química e Física apenas na segunda fase, para terem mais tempo para estudar e que evitaram a 1ª Fase, pois se lhes corresse mal e tentassem de novo, já teriam um número muito mais reduzido de vagas à sua disposição, agora terão só uma oportunidade e de facto poderiam ter tido duas! Façam mais fases então! Três, quatro, uma mão-cheia delas, porque não?
Cria-se assim um ambiente de filhos e enteados pouco saudável para os jovens que vêm nos políticos e órgãos de estado as referências do Portugal de Hoje e de amanhã. Este exemplo não dá qualquer credibilidade ao Governo e ao Sistema que rege o nosso País.
Se de facto, se concordasse em dar essa segunda oportunidade a alguns alunos, também deveria ser dada aos restantes, que não têm culpa das inconstâncias da Educação, dos Órgãos Dirigentes e do Governo em si.
Não quero acusar os Órgãos Responsáveis de favoritismos, interesses pessoais, desonestidade, das chamadas "cunhas", ou de manipulações, porque não me cabe a mim esses julgamentos, e já agora se assim fosse gostaria que me informassem das condições de adopção ou de algum dirigente que queira adoptar adolescentes, para também me estenderem uma passadeira vermelha até à porta da Faculdade.
Quero apenas deixar aqui escrito que se algo está mal, não é só nos exames mas sim o ensino em si.
Os meus sinceros cumprimentos
Um(a) aluno(a) como os outros
14/07/2006
13/07/2006
Chapadão de Luva Branca
Ontem à noite já contava os minutos, os segundos e os suspiros que faltavam para "O Dia", hoje, 13 de Julho, data em que saíam os resultados dos exames da primeira fase. Dia Histórico e mediático no universo estudantil desde que existem exames, responsável por histerias, demonstrações de afecto e de alegria que excedem os parâmetros de comportamento socialmente aceitável, devastamento dos stocks de bebidas alcoólicas dos bares da 24 de Julho e do Bairro Alto, depressões e suicídios para os menos afortunados, que neste país cada vez são mais...mas isso já é outra história, que não quero caír na tentação de chamar nomes ofensivos à Sra. Dra. Ministra da Educação.
Escusado será dizer que nesta noite o meu sono não foi sono nenhum, foi mais um reboliço constante de inquetação, ou uma luta greco-romana com os lençóis a qual perco sempre, para minha frustração. É que perder nas meias-finais com a França é absolutamente superável, ou mesmo perder apostas com a minha irmã de 8 anos, pronto, ainda vá! Agora ser derrotado pelos nossos próprios lençóis é um golpe baixo... muito baixo mesmo. Adiante.
Depois deste suspense nocturno todo, e passado praí uma hora de finalmente ter conseguido dormir alguma coisa, toca o despertador anunciando ao som de Skin (é sempre bom acordar depois de uma hora de sono bem forçada ao som dos berros agoniantes de quem está a parir 3 filhos de uma só vez da ex-vocalista dos Skunk Anansie) que tinha chegado O Dia... The Day... The Shit.
Após a rotina diária matinal, saio eu de casa com umas olheiras quase tão notórias como a maquilhagem dos Green Day, a pensar na possibilidade, nada remota, dos meus resultados nao corresponderem às expectativas ambiciosas dos meus pais. Eram talvez os poucos a acreditar que eu de facto fosse tirar boas notas. Acho que eu própria acreditava mais em ver o Ratzinger ser honesto, a Dolly Parton ao natural, ou o Howard Stern num seminário para aspirantes a pastores do Reino de Deus, do que ver um número maior que 6 à frente do meu nome na pauta dos resultados do exame de Matemática.
Já os professores, esses Judas do ensino, e algumas pessoas que não vou dizer o nome, mas que posso adientar que são da mesma àrvore genealógica e que me oferecem meias no Natal, e perfumes da Ralph Lauren a outros supostamente iguais a mim na hierarquia familiar, penso conseguiam mesmo acreditar mais em ver o Tozé Martinho fazer novelas com títulos originais do que em mim.
Pois bem, cheguei lá, olhei, assimilei, interpretei e ri. Ri deasalmadamente e irónicamente como se não houvesse amanhã. Para espanto meu, incredibilidade alheia, impossibilidade teórica e ironia do destino ou do corrector de exames, saquei uma positiva choruda a Morte.mática e umas notas jeitosas nas outras disciplinas. Acho até que ri um bocadinho mais por imaginar a cara de peidinho dos que não acreditaram em mim quando virem que se calhar o Tozé Martinho é mesmo um senhor muito criativo, do que pela nota em si. Não passa de um valor, o esforço, o empenho ou mesmo as pessoas nem sempre se medem em escalas.
Isto é aquilo a que eu chamo um chapadão de luva branca!
p.s. A peppermint gum balloon # pocking! # in your face
Escusado será dizer que nesta noite o meu sono não foi sono nenhum, foi mais um reboliço constante de inquetação, ou uma luta greco-romana com os lençóis a qual perco sempre, para minha frustração. É que perder nas meias-finais com a França é absolutamente superável, ou mesmo perder apostas com a minha irmã de 8 anos, pronto, ainda vá! Agora ser derrotado pelos nossos próprios lençóis é um golpe baixo... muito baixo mesmo. Adiante.
Depois deste suspense nocturno todo, e passado praí uma hora de finalmente ter conseguido dormir alguma coisa, toca o despertador anunciando ao som de Skin (é sempre bom acordar depois de uma hora de sono bem forçada ao som dos berros agoniantes de quem está a parir 3 filhos de uma só vez da ex-vocalista dos Skunk Anansie) que tinha chegado O Dia... The Day... The Shit.
Após a rotina diária matinal, saio eu de casa com umas olheiras quase tão notórias como a maquilhagem dos Green Day, a pensar na possibilidade, nada remota, dos meus resultados nao corresponderem às expectativas ambiciosas dos meus pais. Eram talvez os poucos a acreditar que eu de facto fosse tirar boas notas. Acho que eu própria acreditava mais em ver o Ratzinger ser honesto, a Dolly Parton ao natural, ou o Howard Stern num seminário para aspirantes a pastores do Reino de Deus, do que ver um número maior que 6 à frente do meu nome na pauta dos resultados do exame de Matemática.
Já os professores, esses Judas do ensino, e algumas pessoas que não vou dizer o nome, mas que posso adientar que são da mesma àrvore genealógica e que me oferecem meias no Natal, e perfumes da Ralph Lauren a outros supostamente iguais a mim na hierarquia familiar, penso conseguiam mesmo acreditar mais em ver o Tozé Martinho fazer novelas com títulos originais do que em mim.
Pois bem, cheguei lá, olhei, assimilei, interpretei e ri. Ri deasalmadamente e irónicamente como se não houvesse amanhã. Para espanto meu, incredibilidade alheia, impossibilidade teórica e ironia do destino ou do corrector de exames, saquei uma positiva choruda a Morte.mática e umas notas jeitosas nas outras disciplinas. Acho até que ri um bocadinho mais por imaginar a cara de peidinho dos que não acreditaram em mim quando virem que se calhar o Tozé Martinho é mesmo um senhor muito criativo, do que pela nota em si. Não passa de um valor, o esforço, o empenho ou mesmo as pessoas nem sempre se medem em escalas.
Isto é aquilo a que eu chamo um chapadão de luva branca!
p.s. A peppermint gum balloon # pocking! # in your face
12/07/2006
Peppermint Fresh Gum

Breve introdução informal:
Mafaux Monroe, maior e vacinada.
Crio este blog, num ambiente examo-depressivo que anestesia qualquer tipo de neurónio e compromente qualquer forma de criatividade, transformando-me temporariamente (espero) num ser humano intelectualmente e humoristicamente vegetativo. Por essa mesma, e mais que suficiente razão, deposito neste blog a fezada de que me recicle toda a caganita mental que se tem acumulado nas últimas semanas!
Uma chiclete de hortelã-pimenta para mascar e refrescar!
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