O meu Santo António este ano foi miserável.
Estava eu preparadinha para ir jantar no arraial, com toda aquela envolvente mística de música tradicional Portuguesa, na meia-luz de uma tarde de Verão e fragrância de peixe e manjerico, quando dei por mim num cenário de filas intermináveis só para fincar o dente numa sardinha fria e artisticamente forrada a moscas. Mas eram filas como aquelas que fazem de um dia para o outro ao relento, à porta do Colombo com o fim heróico de comprar bilhetes para o concerto da Madonna.
Ora com tudo isto e uma fome desgraçada, por motivo de assegurar a sobrevivência da espécie, fomos obrigados a ir jantar noutro sítio qualquer que não vendesse sardinhas, porque esses, todos eles estavam com uma tal quantidade de gente que se podiam tornar potências focos de propagação de epidemias.
Ou seja, andei eu a incorporar-me no espírito durante mais que uma semana (passando fome para reservar espaço em mim para a sardinha, descurando um pouco a minha higiene pessoal e preparando cuidadosamente um plano-poupança em moedas pretas para esbanjar em álcool, entre outras coisas) para no fim acabar sentada num restaurante lounge de Pastas em Telheiras. Francamente. É que ainda por cima estava a malta toda de calção e chinelo no pé, portanto provocámos algumas reacções assim que entrámos naquele estabelecimento com um certo padrão de vestuário, por sinal, bem diferente do nosso.
Como se não bastasse, ainda me serviram sal com bifes, em vez de bifes temperados, que eu quase que podia apostar que tinham as arcas avariadas e andavam a conservar aquelas solas de sapato em baús de salga, como faziam antigamente. Eu juro que receei desidratar, não fosse aquilo sugar-me toda a linfa por osmose, ou raio que o parta.
Portanto acabo este apontamento deixando no ar a seguinte reflexão: Que mal fiz eu aos Santos para que me amaldiçoassem assim?
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