28/07/2006

A minha avó e dois dedos de conversa

Há aí por esse mundo quem tenha carros topo de gama. Há quem tenha mansões modestas aonde cabia Lisboa inteira. Há também quem tenha roupa interior ou lingerie que leiloadas serviam para alimentar vinte e duas aldeias em África. Há quem tenha músculos de fazer invejar o Van Dame ou o Stalone. Há quem tenha um par de mamas de três quilos e seiscentas cada uma. Eu tenho uma avó. Uma avó muito à frente que põe qualquer um knock out. Se a minha avó trabalhasse punha qualquer um a viver do fundo de desemprego. Por onde ela passa, deixa um rasto de cinza e destruição intelectual.
Já há muito que estou para escrever acerca deste pequeno tesouro literário que é a minha avó. Então decidi, finalmente, fazer um pequeno estudo, um pequeno apontamento sobre esta jóia da Língua Portuguesa. E decidi igualmente botar aqui esta posta ortográfica de conteúdo semântico e gramatical relevante, para que qualquer estudante ou aficionado das Línguas tenha aqui uma fonte preciosa de estudo.
Todo este esplendor literário prolifera quando se junta a minha avó e um meio de comunicação, seja ele qual for. Mas vou-me restringir apenas ao telefone, que de todos é o que constitui a melhor ferramenta de estudo para este fenómeno da língua portuguesa.
O que se passa é que a minha avó quando levanta o auscultador e digita os algarismos do número telefónico de algum parente ou amigo próximo, dá inicio sem saber a um discurso digno de ser escrito e nomeado para o Prémio Nobel da Literatura. Basicamente a minha avó fala muito. Se acham que a Teresa Guilherme fala muito, desenganem-se, a minha avó fala mais. Posso inclusive afirmar que a minha avó quase que nasceu com um dom. A minha avó tem, de facto, uma aptidão transcendente para a comunicação.
Numa simples e corriqueira conversa telefónica quotidiana, a minha avó consegue incluir os mais diversos elementos gramaticais que se possa imaginar, num tempo recorde de 7 minutos, ou coisa que o valha. Qual Saramago, qual Fernando Pessoa, qual Virgílio Ferreira… a minha avó tem muito mais paleio que todos eles juntos em desgarrada. Literalmente. Se lhe déssemos liberdade total de expressão, o discurso dela tenderia para o infinito, vão por mim.
Vou portanto debruçar-me apenas sobre os aspectos mais presentes e mais marcantes dos imensos discursos da minha avó.
Quando atendemos o telefone, após os rotineiros cumprimentos e perguntas da praxe, a minha avó atira logo com uma descrição pormenorizada da sua situação actual. Descrições e enumerações são o seu forte. Dois recursos estilísticos logo para iniciar a refeição, tipo aperitivo. Geralmente começa a frase com: “Estava aqui a ver televisão…” ou algo dessa ordem. Quase como se nos informasse do estado da bolsa, ela informa-nos do seu estado de espírito. De seguida inclui logo a informação completa do estado do tempo para o dia, seguido da frase: “ (…) mas com o meu ar condicionado, é outra coisa!”. A minha avó desde que tem aquele ar condicionado que não é a mesma. Parece uma mulher muito mais realizada, muito mais confortável na vida e na sala de estar.
Depois da informação meteorológica segue-se a ementa. Faz então uma nova descrição e enumeração detalhada do seu menu, forma e local de confecção, e uma enumeração de todas as percepções sensoriais, como sabor, cheiro e aspecto.
Dada a informação gastronómica, segue-se os acontecimentos do dia, como as conversas bairristas com vizinhos, amigos ou parentes. É aí que entra o discurso directo. Ao contrário de resumir o diálogo e restringi-lo ao conteúdo fulcral, não. A minha avó cita todas as passagens. Assim como na Bíblia, tipo “Evangelho segundo Judas…”, os diálogos pela boca da minha avó seriam “Postulados de bica na mão segundo Clotilde”. E é nesta altura que se inicia um fogo cerrado de “e eu disse, e ele disse, e eu disse, e ele disse” até que não restem mais palavras por dizer.
Outra característica muito presente no discurso da minha avó é sem dúvida a introspecção. Quase num estilo lírico, a minha avó expõe todas as suas introspecções por palavras, geralmente introduzidas pela frase: “e eu pensei assim: (…)”.
Finalmente devo fazer referência ainda à relatividade do discurso. No discurso da minha avó existe muita subjectividade. Tudo é relativo. Uma árvore pode não ser uma árvore. Um pássaro pode não ser um pássaro. Um chinelo pode não ser um chinelo. E tudo isto porque a minha avó tem a arte de substituir harmoniosamente grande parte dos substantivos por uma palavra universal, multisignificativa e com um rol imenso de conotações: a palavra “coisa” ou a sua derivada masculina, “coiso”. E assim tudo ganha um significado próprio, significado esse escondido apenas no subconsciente da autora, neste caso, a minha avó. Cabe-nos a nós, simples ouvintes, decifrar todo o conteúdo subjacente à conversa, o que a torna consideravelmente mais interactiva!
Portanto como vêem, o conteúdo literário destas conversas é imenso, uma autêntica relíquia cultural.
Deixo agora um pequeno excerto do que são as conversas telefónicas com a avó Monroe, para vosso deleito e apreço.


Avó liga-me, eu atendo:
- Estou?
- Olá querida, tudo bem contigo?
- Sim e contigo?
- Também! Estava aqui sentada na sala a ver aquela novela do coiso… ai aquela dos irmãos, sabes que está quase a acabar?
- Sim, sei…
- Por acaso é muito gira, ela agora vai casar, estava aqui entretida a ver, enquanto vou espreitando a outra da 3.
- Pois…
- Bem hoje esteve um calor, uma coisa horrível, que eu saí à tarde para ir ao Big Ben tomar um café, e quando chego a casa pensei assim: “Bem está tanto calor que se calhar é melhor ligar o ar condicionado”, e agora está tão fresquinho, vinte e um graus, sabe mesmo bem!
- Sim, pois é…
- Sabes que dão mais calor para amanhã ainda! O que vale é que eu tenho o meu ar condicionado.
- Pois é, avó…
- Olha quando fui ao Big Ben, encontrei a coisa, e ela disse…
- A coisa quem?
- A coisa… a minha amiga! E então ela disse: “Olá, está boa? Há tanto tempo!” e eu disse: “é verdade, então e os meninos?” e ela disse: “Olhe um vai-se casar agora” e eu disse “Ah, veja só, já estão tão grandes…” – E segue-se um rol imenso de “e eu disse, e ela disse, e eu disse, e ela disse…”
- Hum, hum…
- Bem, depois fiz uma batatinha cozida com peixinho grelhado que já não fazia há imenso tempo… olha tenrinho, tenrinho, tenrinho! Sabia tão bem… Consolei-me!
- Pois, que bom… Olha vou passar à mãe está bem?
- Está bem querida, passa lá. Beijinhos!
- Beijinhos, avó!

E a saga recomeça…

Dois dedos de conversa? Nem as minhas duas mãos chegam sequer! Mas não faz mal, felizmente tenho as dela para ajudar a contar!

20/07/2006

...aahm Férias?

... Não queria caír no cliché de festejar o primeiro dia de férias com o típico grito ortográfico em caps lock eufórico e libertador, mas nao resisto:
!!!!!FÉRIAS!!!!!
Esta é das únicas palavras que eu conheço que podem ser pronunciadas uma catrefada de vezes, das bocas mais diferentes que se possa imaginar, nas mais variadas línguas, que nunca perde o seu impacto positivo no dia de quem quer que seja. E deve ser também das palavras com mais conotações e sentidos subjacentes que conheço. Senão vejamos, a palavra férias pode ser sinónimo de:
a) Descanço
b) Loucura
c) Viagens
d) Bebedeiras
d1) Monólogos gregorianos com loiça de W.C.
d2) Ressaca
e) Abstinência de valores
f) Bronzes invejáveis
f1) Escaldões inflamáveis
g)Pores-do-sol memoráveis
h)Nasceres-do-sol igualmente memoráveis (mas provavelmente não tão nítidos)
*É de referir que entre as alíneas g) e h) não existe qualquer tipo de descanço.
i) Gargalhadas
j) Saudades
.
.
.
etc.
E pronto, isto é tudo muito bonito e muito batido, mas o que eu gosto mesmo nas férias é de haver desenhos animados todos os dias de manhã! =D
Ah! E os chás gelados de pêssego, canela, limão e hortelã ..hmmm

14/07/2006

Ministério da Educação

Escrevi este mail à Sra. Ministra da Educação, a propósito das últimas abébias que foram dadas apenas a alguns alunos, um bocadinho injusto para os outros, digo eu.
Quem partilhe da mesma opinião, pode fazer copy e encaminhar o mail para a seguinte morada: see@me.gove.pt .
Provavelmente eles vão fazer o que sempre fizeram com mails e cartas como este, que é limpar o rabinho com eles, mas vamos.lhes dar hard paper, nao o papel higiénico de cetim e cheiro a rosas a que os seus rabinhos governamentais estão tão habituados!

Hão-de ficar com hemorróidas e o rabinho assado... Tenho dito.


Exma. Sra. Ministra da Educação:

Venho por este meio demonstrar a minha incredibilidade e a minha indignação com as últimas notícias que chegaram até nós sobre as alterações do Acesso ao Ensino Superior exclusivas para apenas um restrito grupo de alunos.
Confirmei junto do Ministério da Educação essa informação, para fundamentar as minhas acções, já que muitos são os que não o têm feito por aqui. De facto, foi-me confirmada a notícia de que tinha sido encaminhado para todas as escolas um despacho que consistia em dar uma segunda oportunidade apenas a alguns alunos, ou deverei antes dizer, passo a expressão, "uma palmadinha nas costas" ?
Segundo consta, os alunos que fizeram o exame de Química e Física do novo programa, podem pela primeira vez infringir as regras até então sempre tão dogmáticas e respeitadas do acesso ao Ensino Superior, e repetir o exame na 2ª Fase, mas concorrer na 1ª Fase de candidaturas. Feito Histórico, este, já que antes nunca se abriram excepções às regras do Ministério da Educação, pelo menos que eu, ou o Portugal cá fora saiba, o que também torna essa questão bastante relativa.
A vossa justificação para este acontecimento baseia-se no facto de ter havido uma elevada taxa de insucesso a nível nacional no exame de Química e Física, em que a média rondou os 6,9 valores e os 7,7 valores respectivamente. Um descalabro, até porque nos anos anteriores o sucesso era exponencialmente maior, quais Doutorados de palmo e meio, e nunca antes se verificou médias negativas em qualquer outra disciplina, impensável até. Peço desculpa pela ironia, mas de facto não é a primeira vez que somos confrontados com notas negativas, insucesso escolar e polémicas em torno dos exames. Sempre houve contestações, notas muito baixas e estatísticas pouco simpáticas. Para além disso, como se verificou, as médias desceram bastante tanto a Química e Física do programa novo como do programa antigo, como a muitas outras disciplinas. Portanto deduzo que o problema não tenha sido pontual do exame de Química e Física, mas sim a nível das disciplinas em geral.
Houve um boato, como sempre há, de que existiam questões dúbias no exame de Química, mas que ouvi hoje ser desmentido por uma representante da Comissão responsável pelos Exames Nacionais numa entrevista para a rádio TSF. Portanto exclui-se uma justificação baseada em qualquer tipo de falhas técnicas no Exame.
Se, por conseguinte, esta alteração se deve somente ao insucesso nos Exames de Química e Física do programa novo, gostaria de saber então a razão de a mesma alteração no acesso ao Ensino Superior não abranger também os alunos que fizeram o Exame de Matemática do código 435, cuja média a nível nacional, não foi apenas mais baixa que a média a Química e Física do programa novo, como A mais baixa nas principais provas de Acesso ao Ensino Superior.
Outra questão que deve ser tida também em conta, é o facto de os resultados dos exames a Química e Física não se terem afastado muito do valor das notas finais, e portanto do desempenho escolar dos alunos ao longo do ano. Não vejo assim a razão do insucesso nessas disciplinas exclusivamente devido aos exames, mas talvez a uma deficiente adaptação a um novo programa, quer por parte dos alunos quer por parte dos professores, como também possivelmente devido a um grau de exigência demasiado elevado no Exames Nacionais.
Esta decisão do Ministério de dar uma segunda oportunidade apenas a estes alunos é, a meu ver e a muitos outros, um tremenda injustiça para os restantes alunos que tal como os de Química e Física, têm outras disciplinas específicas às quais precisam de bons resultados, e que se sujeitam como sempre foi feito, às condições que sempre foram seguidas, pelo menos até à presente data. Sem falar nos alunos que optaram por fazer os Exames de Química e Física apenas na segunda fase, para terem mais tempo para estudar e que evitaram a 1ª Fase, pois se lhes corresse mal e tentassem de novo, já teriam um número muito mais reduzido de vagas à sua disposição, agora terão só uma oportunidade e de facto poderiam ter tido duas! Façam mais fases então! Três, quatro, uma mão-cheia delas, porque não?
Cria-se assim um ambiente de filhos e enteados pouco saudável para os jovens que vêm nos políticos e órgãos de estado as referências do Portugal de Hoje e de amanhã. Este exemplo não dá qualquer credibilidade ao Governo e ao Sistema que rege o nosso País.
Se de facto, se concordasse em dar essa segunda oportunidade a alguns alunos, também deveria ser dada aos restantes, que não têm culpa das inconstâncias da Educação, dos Órgãos Dirigentes e do Governo em si.
Não quero acusar os Órgãos Responsáveis de favoritismos, interesses pessoais, desonestidade, das chamadas "cunhas", ou de manipulações, porque não me cabe a mim esses julgamentos, e já agora se assim fosse gostaria que me informassem das condições de adopção ou de algum dirigente que queira adoptar adolescentes, para também me estenderem uma passadeira vermelha até à porta da Faculdade.
Quero apenas deixar aqui escrito que se algo está mal, não é só nos exames mas sim o ensino em si.

Os meus sinceros cumprimentos
Um(a) aluno(a) como os outros

14/07/2006

13/07/2006

Chapadão de Luva Branca

Ontem à noite já contava os minutos, os segundos e os suspiros que faltavam para "O Dia", hoje, 13 de Julho, data em que saíam os resultados dos exames da primeira fase. Dia Histórico e mediático no universo estudantil desde que existem exames, responsável por histerias, demonstrações de afecto e de alegria que excedem os parâmetros de comportamento socialmente aceitável, devastamento dos stocks de bebidas alcoólicas dos bares da 24 de Julho e do Bairro Alto, depressões e suicídios para os menos afortunados, que neste país cada vez são mais...mas isso já é outra história, que não quero caír na tentação de chamar nomes ofensivos à Sra. Dra. Ministra da Educação.
Escusado será dizer que nesta noite o meu sono não foi sono nenhum, foi mais um reboliço constante de inquetação, ou uma luta greco-romana com os lençóis a qual perco sempre, para minha frustração. É que perder nas meias-finais com a França é absolutamente superável, ou mesmo perder apostas com a minha irmã de 8 anos, pronto, ainda vá! Agora ser derrotado pelos nossos próprios lençóis é um golpe baixo... muito baixo mesmo. Adiante.
Depois deste suspense nocturno todo, e passado praí uma hora de finalmente ter conseguido dormir alguma coisa, toca o despertador anunciando ao som de Skin (é sempre bom acordar depois de uma hora de sono bem forçada ao som dos berros agoniantes de quem está a parir 3 filhos de uma só vez da ex-vocalista dos Skunk Anansie) que tinha chegado O Dia... The Day... The Shit.
Após a rotina diária matinal, saio eu de casa com umas olheiras quase tão notórias como a maquilhagem dos Green Day, a pensar na possibilidade, nada remota, dos meus resultados nao corresponderem às expectativas ambiciosas dos meus pais. Eram talvez os poucos a acreditar que eu de facto fosse tirar boas notas. Acho que eu própria acreditava mais em ver o Ratzinger ser honesto, a Dolly Parton ao natural, ou o Howard Stern num seminário para aspirantes a pastores do Reino de Deus, do que ver um número maior que 6 à frente do meu nome na pauta dos resultados do exame de Matemática.
Já os professores, esses Judas do ensino, e algumas pessoas que não vou dizer o nome, mas que posso adientar que são da mesma àrvore genealógica e que me oferecem meias no Natal, e perfumes da Ralph Lauren a outros supostamente iguais a mim na hierarquia familiar, penso conseguiam mesmo acreditar mais em ver o Tozé Martinho fazer novelas com títulos originais do que em mim.
Pois bem, cheguei lá, olhei, assimilei, interpretei e ri. Ri deasalmadamente e irónicamente como se não houvesse amanhã. Para espanto meu, incredibilidade alheia, impossibilidade teórica e ironia do destino ou do corrector de exames, saquei uma positiva choruda a Morte.mática e umas notas jeitosas nas outras disciplinas. Acho até que ri um bocadinho mais por imaginar a cara de peidinho dos que não acreditaram em mim quando virem que se calhar o Tozé Martinho é mesmo um senhor muito criativo, do que pela nota em si. Não passa de um valor, o esforço, o empenho ou mesmo as pessoas nem sempre se medem em escalas.


Isto é aquilo a que eu chamo um chapadão de luva branca!


p.s. A peppermint gum balloon # pocking! # in your face

12/07/2006

Peppermint Fresh Gum


Breve introdução informal:

Mafaux Monroe, maior e vacinada.

Crio este blog, num ambiente examo-depressivo que anestesia qualquer tipo de neurónio e compromente qualquer forma de criatividade, transformando-me temporariamente (espero) num ser humano intelectualmente e humoristicamente vegetativo. Por essa mesma, e mais que suficiente razão, deposito neste blog a fezada de que me recicle toda a caganita mental que se tem acumulado nas últimas semanas!

Uma chiclete de hortelã-pimenta para mascar e refrescar!