Para aqueles que não seguem o meu percurso literário (o que representa aproximadamente o resto do mundo) e não sabem, a minha avó é um ícone na minha infância e alguém com quem tenho aprendido até hoje.
Mas há uma e uma só excepção de uma lição que eu nunca aprendi - e que eu sei que afecta a minha vida em grande escala.
Alguém me explique a máxima de vida:
“Antes isso que um braço partido”.
Eu já tentei, já me virei do avesso, já me submeti a testes-cobaia de drogas alucinogénicas e feitiços Malaios, mas acho sinceramente que não tenho capacidade espiritual para contemplar toda a beleza e essência desta frase.
É que para mim - e Deus me perdoe tamanho sacrilégio - há coisas bem piores.
Chumbei a uma cadeira - Oh filha, antes isso que um braço partido!
Vou ficar presa mais um ano, iniciar a carreira mais tarde, sair de casa aos 30 e quando quiser ter filhos já não vou estar na idade fértil, acabando os meus dias num lar a jogar bingo a bolas de Naftalina. Mas pelo menos não parti um braço. Por enquanto.
Roubaram-me a mala - Oh filha, antes isso que um braço partido!
Tinha lá a minha carteira com um boletim do euromilhões potencialmente premiado com 9 algarismos de euros e o meu iPhone - para que é que eu vou precisar dos braços agora?
Houve um terramoto e um tsunami no Japão - Oh filha, antes isso que um braço partido!
Que é como quem diz “Os outros que se fodam, o meu bracinho é que não!”
etc, etc, etc.
Mas em parte tenho de reconhecer que esta epifania tem, de facto, uma função indíscutivel: a partir daqui, o mundo torna-se um lugar bem melhor.
Ora se um braço partido é a referência absoluta do pior cenário que pode acontecer, tudo o resto toma imediatamente um carácter bem mais positivo. Acho que consigo viver num mundo em que o meu único e fatal medo será o estalido do rádio ou do cúbito. Afinal o que é um inferno em chamas comparado com isto? Depois de morrer nem sentes nada... Falecer é para meninos, pá!