Hora do lanche, a minha refeição favorita. É que o lanche é, para mim, a única refeição do dia em que temos legitimidade para comer toda a trampa que quisermos. Folhados borbulhantes de gordura, tostas mistas de 7 andares, leite com chocolate, chocolates de leite, bolicaos, donuts, bolos! O que não quer dizer que eu não coma trampa equiparada nas demais refeições, mas ao lanche sinto-me menos culpada.
Ora e aqui estou eu, neste preciso momento, a contemplar uma gorda e fofa fatia de bolo pão-de-ló e uma bruta caneca de Nesquick. E no meio destas trincas tão boas que quase penso que é pecado, vem-me à ideia uma pergunta sem resposta aparente:
Quem foi o visionário que, há muitos e muitos anos atrás, alguma vez pensou que misturar ovos, farinha e leite ia fazer uma coisa tão boa como massa para bolos?
...
É que à primeira vista eu diria que era nojento! Uma pasta viscosa, nem é líquido nem é sólido, amarelo e com bolhinhas, e com três ingredientes que se me mandassem ingeri-los ao mesmo tempo, eu diria que era castigo!
Eu não sei quem foi o audaz que em tempo de escassez (sim, que os bolos já são do tempo da Maria-cachucha, quando o povo mal tinha dinheiro para o pão) decidiu arriscar em fazer tamanha mistela e comê-la a seguir! Acho demasiada ousadia!
No meu ver, acho que o que se terá passado foi o seguinte:
Algures na antiguidade, o nosso amigo Júlio César decidiu dar um daqueles banquetes pipocas lá deles, tudo virou azáfama no Domus e toca de mandar os escravos trabalhar. Nos preparativos, algumas escravas devem ter ido buscar os ingredientes numa correria! Ora por um corredor vinha uma escrava com uma malga de açucar. Noutro corredor, outra escrava com a farinha. Noutro ainda, uma outra com o leite. E por fim, a última escrava com os ovos.
Ora a escrava dos ovos a correr, a escrava do açucar a correr, a escrava da farinha a correr e a escrava do leite a correr... todas a correr em corredores diferentes que iam dar a um mesmo sitio. Corre uma, corre outra, corre uma, corre outra, chegaram ao meio e pumba! Encontrão colossal, farinha, ovos, leite e açucar pelo ar, e quando tudo cai por cima delas, eis senão que surge a escorrer a pasta divina que torna a nossa existência hoje em dia muito mais feliz.
E pronto, eu cá acho que foi assim.
p.s. Ah, e tava um calor dos diabos, que cozeu instantâneamente a massa. Ora aí está.