26/01/2009

6º Mistério - O d'O Tapete Rolante

E porque uma rapariga tem de se alimentar (por mais inacreditável que possa parecer), porque a cantina do politécnico tem dias, porque ando à espera há meses que o Jamie Oliver faça receitas com ingredientes que realmente existam nas mercearias do mundo real, e também porque já parece mal uma rapariga da minha idade levar termus para a faculdade, vejo-me obrigada a recorrer variadas vezes às refeições pré-cozinhadas do LIDL.

E é neste âmbito que tenho vindo a observar um comportamento quase tão natural no ser humano do primeiro mundo como aceitar panfletos de publicidade, amarfanhá-los e atirá-los para o chão no segundo seguinte:

Porque será que, quando estamos na fila da caixa de um qualquer supermercado, tendemos a amontoar todos os nossos produtos de tal forma que seja garantido que não exista mais nenhum objecto num raio de 2 palmos e que não haja qualquer hipótese de confundir as minhas batatas com a palete de leite do senhor da frente?

Criamos ali naquele decímetro quadrado de tapete rolante um território só nosso e ai de quem ultrapasse a fronteira. E se porventura alguém atrás de nós tem a ousadia de invadir um pouco que seja daquele fosso preto que rodeia a nossa pirâmide de pertences, rapidamente temos uma reacção defensiva e automática do sistema imunitário que nos leva a empilhar ainda mais os enlatados, de forma a obter a maior concentração de produtos por centímetro quadrado que a física nos permita.

Ficámos ali, que nem cães de guarda sarnentos de olho semi-cerrado e mostrando o dente, topando qualquer artimanha ou movimento em falso que represente uma ameaça para as nossas compras do mês.

E ainda temos outra ferramenta extremamente útil: a barra amarela "cliente seguinte". Mas eu pessoalmente sinto-me frustradíssima por só existir uma por caixa. É que por mim, punha uma à frente, outra atrás, e porque não também dos lados? Aliás, se eu pudesse, encaixava assim barras umas nas outras até construir uma auntêntica muralha, com catapultas de esparguete prestes a aniquilar outros clientes hostis.

Mas porquê tudo isto? Eu penso de mim para mim...

Medo que um cliente maldoso me roube uma saca de cebolas que de facto ainda não paguei?
Medo que um estranho, ao pegar nos seus produtos, tenha depositado neles uma dose de germes infecto-contagiosos que se arrastem e rastejam que nem minhocas até aos meus produtos esterlizados e imaculados?
Um surto de pretensiosismo que me faça julgar os meus frescos melhores que os deles e não querer cá misturas?

Não sei, só sei que é uma espécie de Hipocondria Material que me assombra a mim e à maioria dos consumidores deste país.

Se calhar devíamos todos comprar garrafões de 5l de Amukina e mergulhar os sacos do Continente num alguidar cheio, só por descargo de consciência.