22/10/2008

Quando eu disser 3

O caos do trânsito em Lisboa dá-nos espaço para reflectir sobre muita coisa! Alguma útil, outra nem tanto.

Hoje fartou-se de chover, e enquanto eu esperava que o semáforo decidisse mudar de cor, comecei a seguir o movimento do limpa pára-brisas com o olhar. Subitamente, apercebi-me de que aquele simpático e utilitário instrumento, escondia algo mais que uma chiadeira ritmada - nele residia um perigo perverso e subliminar.

É que aquele constante movimento indeciso, binário e repetitivo começou a assemelhar-se-me com o movimento característico de um relógio de bolso pendular com que os ilusionistas sempre gostaram de nos brindar.

Obviamente, comecei a sentir em mim uma ligeira hipnose, um leve atordoamento da consciência, e aposto com vocês, meus amigos, que se o meu carro falasse e me mandasse imitar um cão, eu saía porta fora, e ali mesmo, no meio da fila de carros, alçava a perna e fazia o que qualquer cão macho que se preze faz em todos os pneus.

Quero portanto deixar aqui o meu alerta sincero, para que resistam a toda e qualquer tentativa maldosa por parte do vosso limpa pára-brisas de vos seduzir e manipular, ora então imaginem só: se o trânsito já tende por si só a ser perigoso, mal de nós se todos os senhores condutores em dias de chuva começassem a entrar em plena regressão ao volante, brincando com as manetes das mudanças, manuseando a direcção bruscamente como qualquer criança e descarregando todas as suas frustraões passadas no código da estrada.

Quer me parecer a mim que a rua se iria tornar numa significativa ameaça para os demais condutores e restantes transeuntes.