Tema: Festividades inerentes aos Santos Populares
"Santo António já se acabou, o São Pedro está se acabar, São João, São João, São João, dá cá um balão para eu brincaaar! "
Se a minha infância alfacinha serviu para alguma coisa, acho que a música é assim!
Ora, a propósito deste mês tipicamente bem disposto e bairrista, com cheiro a sardinhas e sabores tradicionais, venho deixar aqui umas breves observações (feitas por mim numa profissionalíssima experiência de campo) para consulta pública dos mais audazes adeptos dos arraiais e devotos de Suas Santidades.
Bom Apetite!
Apontamento número 1: Nunca, jamais, em tempo algum (e todo o tipo de advérbios de tempo de igual significado) levar socas, chinelos, 'havaianas' ou qualquer outro género de calçado aberto para as imediações do Castelo, Rossio, Alfama, Graça, Bairro Alto e todos os outros potenciais núcleos de gente alcoolicamente aconchegada, em grande número e temporária e compreensívelmente sem grande noção de civismo.
Apontamento número 2: Nunca tentar alcançar o Castelo por maior que seja a vossa boa vontade. É uma traiçoeira armadilha: por questões de segurança, motins de gente dificultam o acesso, mas para os mais corajosos que ainda assim conseguem alcançar o seu destino, quando no alto das masmorras parece subitamente que se abrem fossos gigantes a toda a volta debruados a arame farpado e cheios de crocodilos e piranhas. Basicamente se chegarem lá, tão depressa de lá não saem! Poucos sobrevivem para contar a história.
Apontamento número 2, alínea a) Se porventura decidirem ignorar o apontamento número dois e ousar partir à conquista, preferir os caminhos alternativos disponíveis, tais como: Ruelas, Ruas estreitas sem iluminação, crowd surfing, escadarias vertiginosas, sargetas, andaimes e estendais. Evitar portanto áreas cuja concentração de pessoas seja superior a 5 cabeças por metro quadrado de calçada.
Apontamento número 3: Defecar previamente e em território próprio, todo o tipo de detritos fisiológicos que possam vir a representar embaraço ou ameaça. Dificilmente se encontrará estabelecimentos com sanitários operacionais e cujo tempo de espera não supere a capacidade máxima física de aguentar e armazenar a matéria fecal no respectivo orgão excretor destinado ao efeito.
Apontamento número 3, alínea a) Se por causa natural ou induzida se tornar imperativo defecar em campo, procurar estabelecimentos de ar sombrio e sinistro pouco movimentados, e ignorar todos os possíveis índices de criminalidade que possam aparentar. Em caso de pânico, usar cantos de monumentos nacionais - para eles, e espaços entre carros estacionados ou canteiros - para elas (em circunstância de inibição, pedir aos demais uma rodinha à volta e um "shhh" em coro e numa só voz.
Apontamento número 3, alínea b) Levar uma módica quantia de parte para os rabinhos mais requintados que preferirem utilizar os sanitários de uma qualquer propriedade privada e desconhecida, temporáriamente aberta ao público, ignorando todos os príncipios pelos nossos pais ensinados, tais como "nunca entres em casa de estranhos".
Apontamento número 4: Levar uma pacote de lenços de papel perfumados ou não, e/ou clinex's para limpar qualquer tipo de sujidades pontuais, tais como: vómito próprio e/ou alheio, sangria, ginja ou outra bebida própria e/ou alheia, cuspo alheio (não creio que algúem cuspa para o ar só para testar a validade do provérbio português), e todo o tipo de substâncias que representem uma ameaça para a higiene mínima de cada um. Considerar igualmente a prevenção com uma muda de roupa.
Apontamento número 5: Ter especial atenção a ocasionais surtos de arremesso de objectos, tais como garrafas, latas, copos de plástico, sardinhas, pão, bifanas, sapatos, pessoas, animais domésticos e Cocktails Molotoff. Se necessário proteger a cabeça e rezar numa das 3 religiões à escolha: Islamismo, Cristianismo ou Judaísmo.
Apontamento número 6: Procurar evitar áreas com grande quantidade de garrafas partidas ou detioradas, principalmente quando desrespeitado o apontamento número 1.
Apontamento número 7: Possuir uma, duas ou mais pastilhas de Gurosan ou Alka-Seltzer prontas a consumir e/ou partilhar. À venda nas farmácias e sem necessidade de prescrição médica.
Apontamento número 8: Em caso de se considerar a si e aos seus, pessoas facilmente seduzidas por álcool ou substâncias psicotrópicas, munir-se previamente de coleira ou chip identificadores.
Apontamento número 9: Levar trapos velhos, cabelo oleoso e desgrunhado e pintura tribal a fim de reduzir em massa os assédios. Esboçar caretas medonhas também potencializa o sucesso nesta matéria.
Apontamento número 10: Levar consigo máquina fotográfica antiga (quanto maior e mais se assemelhar com um tijolo, melhor) para que possa evitar danos a longo prazo e simultâneamente gravar os momentos memoráveis e usá-la como arma.
Apontamento número 11: Providenciar meios de comunicação eficazes e alternos ao inútil telemóvel, tais como: Megafones, telefones de copos com fio extensível até uma distância de 50 metros, tapetes para sinais de fumo, pombos correio e aviõezinhos de papel.
Apontamento número 12: Planificar antecipadamente a forma de regresso, e se necessário fazer uma vaquinha e alugar um motorista, ou munir-se de patins, trotinetas, bicicletas, burricos ou outros veículos de tracção animal. Levar agasalhos e calçado confortável para uma cómoda peregrinação até à praça de táxis vazia mais próxima, local esse que pode variar entre a Avenida da Liberdade e Campo de Ourique.
Penso que com este Kit de sobrevivência todos poderão disfrutar dos Santos Populares em condições!
Antenciosamente, Santa Fá.