22/05/2007

3º Mistério - O d'O Espelho

“Espelho mágico, espelho meu, existe alguem mais belo do que eu?

-Ya.

Era uma pergunta retórica, imbecil.

-Então porque é que perguntaste?”



Porque confiante e convencido são dois adjectivos diferentes. Um convencido dá enfase ao que ele quer que as pessoas admirem nele, o que muitas vezes elas nem sequer reparariam por si mesmas. Um convencido precisa de legendas. Um confiante tem imagem. Os que não são cegos que vejam à sua maneira, para ele tanto se lhe deu se o acham policromático ou transparente. Ele tem os negativos consigo.

O convencido procura a confirmaçao numa só voz de que ele é Hossana nas Alturas, ele é rouco e não consegue garantir isso a si mesmo. Pode até ser tudo o que deseja, mas está mais preocupado em ver as caras dos outros a admirá-lo do que virar os olhos para dentro.

O confiante sabe que tem falhas, tenta viver bem com elas. O convencido quer ser perfeito, quer ser o brinquedo mais brilhante da montra. Mas que ninguém desconfie! No fundo ele quer parecer naturalmente reluzente, ai de quem sonhe as vezes que cuspiu para o próprio braço para depois lhe dar lustre. Um convencido segue atalhos e caminhos alternos para dizer que ops! Vejam só: eu sei dizer alterno! Ele nega a sua qualidade de convencido como um judeu as suas origens em terra de ariano. Não admira, em terra de gente hipócrita, ser convencido é mau. E convencido que se preze é perfeito, qual Narciso contemporâneo.

O confiante chega a fazer-se descaradamente de convencido. Diz que é bom num minuto e diz que e merda no outro. É que ele sabe mais ou menos o que a sua casa gasta. O convencido tem uma tendência natural para o consumo compulsivo de qualidades que às vezes não digere bem.

Podia enumerar mais uma série de definições para um e para outro, mas a verdade é que no fim a linha que os separa é bastante ténue, somos confiantes até errar. Somos convencidos para corrigir os nossos erros.

Toda a gente tem um calcanhar de Aquiles. A Cindy Crawford também caga. E o Super-homem morreu à fome porque não sabia cozinhar.

02/05/2007

2º Mistério - O d'O Bombástico

Colegas de Recreio:

Gostava de partilhar aqui com vocês uma pequena reflexão sobre um pormenor que não pude deixar passar na minha condição de instruanda atenta e dedicada do código da estrada.

Estava eu em mais uma penosa hora cheia de regras, contra-ordenações, rotundas, biforcações, entroncamentos, enforcamentos, etc., empenhada em tentar lutar contra a força da natureza que me prendia ao sono e que eu afastava de 5 em 5 segundos em compasso binário no sobressalto de quem tem vergonha do cansaço (e da boca semiaberta que algum bocejo de rabo grande faz sempre questão de deixar para trás).

Nisto, entre os meus sonhos formato curta-metragem que o tempo de antena das circunstâncias apenas permitiam, houve uma palavrinha que de alguma forma ressoou no meu ouvido em ponto morto: "Explosivos".

O meu sentido de sobrevivência (ou o meu sentido satírico, que na volta são um só) trouxe-me imediatamente ao mundo dos presentes de espírito rasgando o ritmo monótono da minha cabeça.

O instrutor acabara de fazer a seguinte pergunta de teste: " O sinal A6 (projecção de gravilha) representa: A- Pavimento escorregadio; B- Risco de projecção de gravilha; C- Transporte de explosivos? "

E eu pronto, lá atirei do fundo do meu anonimato adormecido "C !!" no meu habitual tom de gozo. Depois de uns quantos risos, talvez forçados, talvez pela minha ressurreição triunfal, a aula lá retomou o seu ritmo normal. Menos eu. Eu, movida pela temática aliciante da pergunta anterior, comecei logo a desviar-me sorrateiramente do rumo que era suposto, deliciando-me com as várias interpretações que aquela alínea oferecia . Mas depois de divagar por um ou outro caminho alternativo, lá me conformei que talvez fosse apenas um espirro de creatividade por parte do autor dos testes.

A aula prosseguia não mais interessante, mas com um pouco de mais atenção da minha parte (uma vez acordado o monstro, so resta rezar ), escondida atrás das perguntas pertinentes dos meus colegas, sorrateiramente e pacientemente em pose de predadora à espera de apenas mais uma presa, mais uma frase dúbia que me saciasse o sarcasmo.

E não é que para meu espanto e surpresa, surge novamente uma pergunta:
A placa modelo nº1 deve ser colocada em veículos que: A- Sejam veículos de transporte público de passageiros; B- Tenham um peso bruto de mais de 3500 kg; C- Transportem explosivos?

... Eu gargalhei. Em solo, mas gargalhei, foi mais forte que eu. Acho que uma ou outra alma terá reparado no mesmo, porque vi um ou outro esboço de sorriso tímido entre as caras agnósticas do resto da turminha.

Bem, começo a achar que o autor destes testes apresenta sintomas de piromania.

MAS CALMA. Não satisfeito com isso, logo de seguida veio outra pergunta que já não me recordo ao certo porque ainda estava a tropeçar nas minhas gargalhadas e na ironia da situação, mas que tinha novamente explosivos a mistura.

Portanto concluo, ou Portugal é uma grande potência no mercado internacional de armas de fogo e eu não sabia, ou meus amigos, eu não sei o que é que os senhores da Direcção Geral de Viação e as suas mentes malvadas andam para aí a tramar, mas serei a única aqui a notar um certo padrão de informação duvidoso?


Convido-vos a dedicarem um pouco do vosso tempo a esta questão e estarei receptiva a novas hipóteses de interpretação.

Zelemos pela boa conduta deste país! Viva!